Com efeito, a maioria exerce a sua tirania quando impede a localização do poder social. Não há pior opressão do que a opinião difusa e é realmente assim a ditadura da opinião. Vemos por conseguinte, o motivo que acabou por levar Tocqueville a valorizar as associações, pois a ciência política nova a que Tocqueville aspira é, ao fim e ao cabo, a «ciência da associação»: «Nos países democráticos, a ciência da associação é a ciência-mãe; o progresso de todas as outras depende do seu progresso.»
A chave da liberdade política depende, na sua óptica, do espírito de associação e essa convicção possui uma grande coerência na obra de Tocqueville.
À primeira vista, acreditaríamos que decorria apenas do exemplo americano: é verdade que Tocqueville avaliou a saúde da democracia americana pela bitola do apreço pelas associações. Se « os americanos combateram, pela liberdade, o individualismo a que que a igualdade dá origem e venceram,» afirma ele, é porque souberam alimentar entre eles uma vida política intensa, multiplicando «as ocasiões de actuar em conjunto» e trabalhar desse modo pela prosperidade, ao mesmo tempo que com isso celebravam a sua independência.
Mas fundamentalmente, Tocqueville faz o elogio das associações porque vê nelas o eco contemporâneo da liberdade que existia no Antigo Regime, quando a nobreza, que ainda não tinha sido dizimada pelos reis niveladores exercia um poder autêntico-poder que se interpunha eficazmente entre o súbdito e o soberano[ entre o individuo e o Estado]
A Montequieu causava espanto que a Constituição inglesa tivesse conseguido salvaguardar os nobres como um poder moderador. Em O Antigo Regime e A Revolução Tocqueville lamenta que a França não tenha tido a sabedoria da Inglaterra: «Será de lamentar sempre que essa nobreza, em vez de ter sido submetida ao domínio das leis, tenha sido abatida e desenraizada. Ao agir assim, privou-se a nação da sua substância e infligiu-se à liberdade uma ferida que nunca sarará»
Em Da Democracia na América, Tocqueville não admite um tal saudosimo pois que declara encontrar o equivalente da liberdade aristocrática na lberdade expressa em democracia pelas associações civis ou políticas:« São as associações que, nos povos democráticos, devem fazer as vezes dos particulares poderosos que a igualdade das condições fez desaparecer»
Verdadeiros poderes intermédios na acepção que Montesquieu atribuia à expressão, as associações resumem o combate de Tocqueville pela liberdade política: constituem o antídoto contra o individualismo, ao corrigirem a fraqueza e ao abalarem a apatia do cidadão atomizado, educam para a vida pública e proporcionarem oportunidades de articular o interesse público e o interesse privado, como Tocqueville sublinha. História da Filosofia Política, vol 4-Direcção de Alain Renault.
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