«A nossa tradição de pensamento político tem um começo bem definido:as doutrinas de Platão e de Aristóteles. Estou em crer que teve um final igualmente bem definido, com as teorias de Karl Marx. O começo deu-se quando, na alegoria da caverna, na República, Platão descreveu a esfera dos assuntos humanos-tudo o que diz respeito ao viver em conjunto dos homens num mundo comum-em termos de escuridão, confusão e engano, de que se devem apartar todos os que aspiram ao verdadeiro ser, se querem descobrir o claro céu das ideias eternas. O final chegou com a declaração de Marx de que a filosofia e a sua verdade não se encontram situadas fora dos assuntos humanos e do seu mundo comum, mas precisamente neles, e que só podem ser «concretizadas» na esfera da vida em comum, a que ele chamou «sociedade», e mediante o aparecimento de «homens socializados»[vergesellschaftete Menschen] A filosofia política implica necessariamente a atitude do filósofo em relação à política: tradicionalmente, esta começou com o afastamento do filósofo em relação à política, a que seguiu um regresso com o objectivo de impor os seus próprios parâmetros aos assuntos humanos; o final dessa tradição sobreveio quando um filósofo se afastou da filosofia com a intenção de a «materializar» na esfera da política. Esta foi a famosa tentativa de Marx, revelada antes de mais na sua decisão[ em si mesma filosófica] de abjurar a filosofia e, seguidamente, na sua intenção de« transformar o mundo» e, desse modo, as mentes filosofantes, a «consciência» dos homens।» Hannah Arendt, Entre o Passado e o Futuro
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