terça-feira, 27 de maio de 2008

A eterna criança

A Criança e a Marioneta, cerca de 1903, em pintura de Henri RousseauÓleo sobre tela, 100x 81 cm, Winterthur, Kunstmuseum


"Acreditamos que os contos e os jogos pertencem à infância, míopes que nós somos! Como poderíamos nós viver, não importa em qual idade, sem contos e sem jogos! É verdade que damos outros nomes a isto e lidamos com ele de forma diferente, mas é precisamente uma prova de que se trata da mesma coisa!-Porque a criança, ela mesma, considera o seu jogo um trabalho e os contos a verdade. A brevidade da vida devia guardar-nos contra esta separação pedante por idades-como se cada idade tivesse qualquer coisa de novo-e seria um desafio ao poeta mostrar-nos que o homem- mesmo com duzentos anos de idade- fosse capaz de viver verdadeiramente sem contos e sem jogos"Nietzsche; Opiniões e Sentenças à Mistura

segunda-feira, 26 de maio de 2008

A arte de raciocinar

Os Sete Pecados Mortais e os Quatro Novíssimos do Homem(Tampo de Mesa) de H.BoschÓleo sobre madeira, 120x150 cm, Madrid, Museu do Prado.

"O maior progresso que os homens fizeram consiste em terem aprendido a raciocinar de modo correcto . Não é uma coisa tão natural como pensa Schopenhauer quando diz:«Todos estamos aptos a raciocinar mas poucos a julgar», mas aprendemo-la tarde e ainda agora não impera .O raciocínio falacioso foi nos tempos antigos a regra, e as mitologias de todos os povos, a sua magia e suas superstições, o seu culto religioso e o seu direito, são minas inesgotáveis de provas para apoiar esta proposição". Nietzsche, Caracteres da Alta e da Baixa Civilização.

domingo, 25 de maio de 2008

Frases que fazem pensar?

Aracne(uma sibila?), cerca de 1644-1648.Pintura de VelazquezÓleo sobre tela, 64x58 cm, Dallas, Meadows Museum, Southern Methodist University

"As convicções são inimigas da verdade mais perigosas do que as mentiras";

"Ter por princípio não falar de si é uma muito nobre hipocrisia";

"A exigência de ser amado é a maior das presunções"

Nietzsche, o Homem em Sociedade

sábado, 24 de maio de 2008

Paradoxos do autor

Estudo para a cabeça de Apolo em «A Forja de Vulcano » VelazquezÓleo sobre tela, 36,3x25,2 cm, Japão, colecção particular

"Os pretensos paradoxos do autor de que o leitor tantas vezes se choca não estão no livro do autor mas na cabeça do leitor" Nietzsche, da Alma dos Artistas e Escritores.



sexta-feira, 23 de maio de 2008

Dons naturais

A forja de Vulcano em pintura de VelasquezÓleo sobre tela 223,5x290, Museu do Prado em Madrid

"Numa humanidade tão amplamente desenvolvida como a actual, cada um recebe da natureza o acesso a muitos talentos, mas quase sempre tem um talento inato e raros são aqueles a quem é conferido, pela acção fértil da natureza e da educação, o grau de tenacidade, constância e energia necessários para conseguirem realizar esse talento que genuinamente transita através deles como um manancial em obras e actos"Nietzsche, Caracteres da Alta e da Baixa Civilização.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Espírito

Retrato de Mona Lisa de Leonardo da Vinci!
Óleo sobre madeira, 77x53 cm, Museu do Louvre-Paris

"Os artistas mais espirituais são capazes de criar os mais imperceptíveis sorrisos"Nietzsche, da Alma dos Artistas e Escritores

quarta-feira, 21 de maio de 2008

A importância dos Livros

Simbólica pintura de Sandro Boticelli
Lei draconiana contra os escritores

"Devia considerar-se o escritor como um malfeitor que não merece aceitação e graça a não ser nos casos mais raros: seria um bom antídoto contra a proliferação dos livros"Nietzsche, Da Alma dos Artistas e dos Escritores

terça-feira, 20 de maio de 2008

O que vale mesmo a pena

Senhora de Azul com Guitarra, na pintura de Tamara de Lempicka!Óleo sobre tela, 116x75 cm. Colecção particular

"O que vale mesmo a pena é ter um espírito leve; ou um espírito leve de natureza ou um espírito tornado leve pela arte e pela ciência" Nietzsche, o Homem em Si próprio

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Amor e dualidade.

Idílio amoroso, eternizado na tela, por Tamara de Lempicka!óleo sobre tela, 41x32,5 cm. Colecção particular.

"O que é o amor senão compreender e regozijar-se com que o outro aja e sinta de forma diferente da nossa e até oposta? Para que o amor estimule os contrários na alegria, é necessário que não os suprima e muito menos que os negue...Mesmo o amor-próprio tem por condição uma dualidade irredutível[ou uma multiplicidade] numa só pessoa." Nietzsche, Opiniões e Sentenças à Mistura.


sábado, 17 de maio de 2008

Máscaras

Rapariga de Luvas, 1929.Que famoso quadro de Lempicka!
verdade ou ironia?
"Há mulheres que, seja qual for a pesquisa feita, não têm interior, são puras máscaras.Há que ter pena do homem que se entrega a estes seres quase fantasmáticos, necessariamente incapazes de o satisfazer, mas são justamente elas quem mais é capaz de estimular fortemente o seu desejo. Este bem procura a sua alma mas não tem outro remédio senão continuar sempre a procurar" Nietzsche, Mulher e Criança.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

O talento da amizade

Amendoeira em flor. Que Bela pintura de Van Gog!
"Entre os homens que têm um dom particular para a amizade destaco dois tipos: um está em evolução constante e para cada fase do seu desenvolvimento procura o amigo conveniente. A série de amigos que vai fazendo raramente envolve ligações recíprocas entre eles e por vezes há desentendimentos e contradições: muito naturalmente porque as fases ulteriores do seu desenvolvimento anulam ou alteram as fases precedentes. Um homem assim pode com piada chamar-se escala.-o outro tipo é representado por aquele que exerce uma força de atracção sobre caracteres e talentos muito diversos e para além de ganhar um largo círculo de amigos, também entre estes se geram relações de amizade, não obstante todas as diferenças. Podemos chamar-lhe homem-círculo: porque esta convergência de situações e naturezas tão diversas deve ser de qualquer modo uma forma preexistente nele.-De resto o talento de ter bons amigos é, em muita gente, maior do que o talento de ser bom amigo.
Nietzsche, O Homem em Sociedade

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Margem Esquerda: Viva Humberto Delgado!

Margem Esquerda: Viva Humberto Delgado!

Deixar-se amar

A Acomodação do Desejo, 1929 .Pintura de Salvador Dali

Dali pintou aqui a forma que tomam, na sua imaginação, as inibições que Gala está em vias de curar.

O VELHO ENREDO ERÓTICO
"Como, entre duas pessoas que se amam, uma é, normalmente, a amante e outra é a amada, acredita-se que, em todo o jogo amoroso, há uma quantidade de amor constante; que quanto mais vivida for por uma delas menos tocará à outra. Excepcionalmente, acontece que a vaidade persuade cada qual a imaginar que é ela que deve ser amada: e assim, ambas desejam deixar-se amar; por isso, acontecem, especialmente no casamento, tantas cenas semi-cómicas e meio-absurdas" .Nietzsche, Mulher e Criança

quarta-feira, 14 de maio de 2008

O império de Vénus

A força vital da Primavera associada à distribuição da alegria e das flores!

a Primavera, pintura de Boticelli, de cerca de 1482

A composição representa o império de Vénus[no centro da imagem], no qual penetram o Amor e a Primavera com a sua abundância de flores.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Espíritualidade religiosa

A Anunciação a Maria- Sandro Boticelli
As mãos do anjo e de Maria constituem o verdadeiro motivo central da pintura.
A comunicação da mensagem e a sua recepção está aqui expressa de um modo fascinante!

segunda-feira, 12 de maio de 2008

A crença na inspiração.

Contemplando o nascer da lua no mar.

"Os artistas têm interesse em que se acredite nas intuições súbitas, nas repentinas inspirações: como se a ideia de obra de arte, poema, intuição central de uma filosofia, caísse do céu como um raio da graça divina. Na realidade a imaginação do bom artista ou do bom pensador produz constantemente o bom, o medíocre e o mau, mas o seu juízo, extremamente arguto e exercitado, rejeita, escolhe, combina; Podemos dar conta, pelos cadernos de Beethoven, que ele compôs pouco a pouco as suas magníficas melodias a partir de esboços múltiplos. O que discerne com menos severidade e se abandona voluntáriamente à memória reprodutiva poderá em certas condições tornar-se um grande improvisador: mas a improviação artística situa-se a um nível muito inferior em comparação com as ideias do arte escolhidas seriamente e de modo árduo. Todos os grandes artistas são trabalhadores infatigáveis, não apenas a inventar mas sobretudo a rejeitar, a passar pelo crivo, a modificar, a arranjar." Nietzsche, Da Alma dos Artistas e dos Escritores

domingo, 11 de maio de 2008

Enquanto


Enquanto houver um homem caído de bruços no passeio

e um sargento que lhe volta o corpo com a ponta do pé

para ver como é;

enquanto o sangue gorgulejar das artérias abertas

e correr pelos interstícios das pedras,

pressuroso e vivo como vermelhas minhocas despertas;

enquanto as crianças de olhos lívidos e redondos como luas,

orfãs de pais e de mães,

andarem acossadas pelas ruas

como matilhas de cães;

enquanto as aves tiverem de interromper o seu canto

com o coraçãozinho débil a saltar-lhes do peito fremente,

num silêncio de espanto

rasgado pelo grito da sereia estridente;

enquanto o grande pássaro de fogo e alumínio

cobrir o mundo com a sombra escaldante das suas asas

amassando na mesma lama de extermínio

os ossos dos homens e as traves das suas casas;

enquanto tudo isto acontecer, e o mais que não se pode dizer por ser verdade,

enquanto for preciso lutar até ao desespero da agonia,

o poeta escreverá com alcatrão nos muros da cidade:

ABAIXO O MISTÉRIO DA POESIA


António Gedeão, OBRA POÉTICA

sábado, 10 de maio de 2008

O excesso de história é hostil à vida?

Que beleza e frescura nesta seara com ciprestes, eternizada na pintura de Van Gog!Que percepção luminosa e colorida da vida na natureza!

Tenha agora a gentileza de ler o texto...olhe os contrastes!
"A saturação de uma época pela história parece-me hostil à vida, de cinco maneiras. Um tal excesso faz crescer o contraste entre o ser interior e o ser exterior, enfraquecendo a personalidade; o excesso faz nascer numa época também a ilusão de que possui a virtude mais rara- a justiça- mais do que qualquer outra época; o excesso enfraquece os instintos do povo e impede os indivíduos tal como a totalidade de atingirem a maturidade; o excesso implanta a crença sempre nociva à velhice da espécie humana de que somos seres tardios, simples epígonos. O excesso dos estudos históricos desenvolve numa época um estado de espírito perigoso, a ironia sobre si própria , e este estado de espírito mais perigoso ainda, o cinismo; e assim essa época encaminha-se rapidamente para uma prática sábia mas egoísta que acaba por paralisar a sua força vital e destruí-la."Nietzsche, Acerca da Utilidade da História para a Vida.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Tudo o que existe faz falta?

Que linda Jarra de aloendro, nesta pintura tão natural de Van Gog! E que preciosidades os livros, em belo plano com a jarra!
Tenha agora a gentileza de ler o texto ...................................
"Que os pontos altos na luta pela existência formam uma corrente; que os picos da humanidade se entrelaçam entre si ao longo de milhares de anos; que na minha óptica o que há de mais elevado em cada um destes raros momentos tão antigos, é que ainda continue vivo, claro e imponente-essa é a ideia fundamental da fé na humanidade, a ideia que se exprime pela exigência de uma história monumental. Mas é precisamente por causa desta reivindicação: o que é grandioso deve ser eterno- que se inflama a luta mais terrível. Porque tudo o resto, tudo o que ainda está vivo grita: não! O que é monumental não deve formar-se:- eis a palavra de ordem contrária. O hábito apático, tudo o que existe de pequeno e vulgar e que se espalha por todos os recantos do mundo, lança a sua atmosfera carregada à volta do que é grande, lança os seus entraves e sombras sobre o caminho que deve ser percorrido pelo sublime para chegar à imortalidade" Nietzsche, Acerca da Utilidade da História para a Vida

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Poema do livre arbítrio

A morte de Sócrates: A sua escolha teria podido ser outra?


Há uma fatalidade intrínseca, insofismável,
inerente a todas as coisas e nelas incrustada,
Uma fatalidade que não se pode ludibriar,
nem peitar, nem desvirtuar,
nem entreter, nem comover,
nem iludir, nem impedir,
uma fatalidade fatalmente fatal,
uma fatalidade que só poderia deixar de ser
para ser fatalidade de outra maneira qualquer,
igualmente fatal.


Eu sei que posso escolher entre o bem e o mal.
Eu sei que posso fatalmente escolher entre o bem e o mal.
E já sei que escolho o bem entre o mal e o bem.
Já sei que escolho fatalmente o bem.
Porque escolher o bem é escolher fatalmente o bem,
como escolher o mal é escolher fatalmente o mal.
O meu livre arbítrio
conduz-me fatalmente a uma escolha fatal।
António Gedeão, OBRA POÉTICA





segunda-feira, 5 de maio de 2008

A história é a dança da vida!

a harmonia da dança contrasta tantas vezes com a confusão da história!
A vida precisa dos serviços da história. Mas é também muito importante estarmos conscientes do que significa a proposição contrária, isto é, que o excesso de história é prejudicial à vida.
A história pertence à vida sob tês aspectos: pertence-lhe porque ela é activa e aspira; porque conserva e venera; porque sofre e tem necessidade de liberdade. A estas três relações correspondem três espécies de história, se me é permitido distinguir, no estudo da história, um ponto de vista monumental; um ponto de vista de antiquário e um ponto de vista crítico.

Nietzsche, Acerca da Utilidade da História para a Vida






domingo, 4 de maio de 2008

Para além da Trafaria

_Minha mãe, haverá mundo
para além da Trafaria?

_Não sei, meu filho. Não sei
Tudo aquilo que sabia
já no meu sangue te dei.

_Que serras são estas, mãe,
que não nos deixam ver nada?

_São rugas que a terra tem.
Não maces a tua mãe.
Deixa-me estar descansada.

_Ó mãe, que rio é aquele?
Onde nasce e onde morre?

_Ó filho, é Deus que o impele.
Entretem-te a olhar para ele.
É um rio.Tém água. Corre.
_
Quando eu for crescido, mãe,
quero saber e entender.

filho, o supremo bem
é cada qual, com o que tem,
resignar-se e agradecer.
Deus faz tudo pelo melhor.
Não se engana nem se esquece.
De todo o mal, o maior
seria sempre pior
se Deus assim o quisesse.
Ninguém foge ao seu destino.
Está tudo determinado.
Não penses com desatino.
Dorme, dorme, meu menino,
um soninho descansado.

António Gedeão, OBRA POÉTICA

sexta-feira, 2 de maio de 2008

O excesso de história prejudica a vida?

Metamorfoses de Narciso, 1937.Pintura surrealista de Salvador DaliO quadro que Dali mostrou a Freud no seu único encontro para lhe mostrar que era um dos seus melhores alunos.

"Todo o vivente tem necessidade de uma atmosfera, de uma auréola misteriosa. Sem esta envolvência-qual é a religião, arte ou génio, que não ficam condenados a gravitar como astros sem atmosfera! E não há que espantar por murcharem, endurecerem, esterilizarem.
É a lei que rege todas as grandes coisas, as quais, como diz Hans Sachs nos Mestres Cantores, «não se tornam vitoriosas sem uma réstia de ilusão»
Mas também todo o povo, todo o homem, que querem florir na maturidade, têm necessidade destas ilusões protectoras, de um auréola que os abrigue e os envolva. Hoje, no entanto, tem-se horror à maturidade, porque se faz mais caso da história do que da «vida». Pior ainda, glorifica-se até que « a ciência comece a reinar sobre a vida». É possível que acabe por se chegar aí, mas é certo que uma vida assim regimentada não vale grande coisa, porque ela é muito menos «vida» e acarreta menos vida para o futuro do que houve no passado, regida então não pelo saber, mas pelo instinto e por poderosas ilusões. Objectar-me-ão que o nosso tempo não deve ser a era das personalidades realizadas, amadurecidas, harmoniosas, mas a de um trabalho colectivo, o mais útil possível. Isto equivale a dizer que os homens devem ser dirigidos em vista das necessidades do nosso tempo, a fim de que estejam prontos para lançar mãos à obra; que devem trabalhar na oficina das grandes«utilidades» comuns, antes de estarem maduros, e mesmo para que não cheguem a estar maduros-porque seria um luxo subtrair uma grande quantidade de energia ao «mercado de trabalho». Cegam-se certas aves para elas cantarem melhor: não creio que os homens de hoje cantem melhor do que os seus antepassados, mas o que eu sei é que os cegamos demasiado jovens. E o meio, o meio apressado que se emprega para os cegar é uma luz muito intensa, muito rápida e muito vertiginosa; O jovem homem é conduzido, em golpes muito genéricos, através dos séculos : adolescentes que não entendem nada de guerra, de negociações diplomáticas, de política comercial, são cossiderados dignos de estar à altura da história política. E da mesma forma que o jovem homem galopa através da história, o homem moderno galopa através dos museus, ou corre para escutar concertos. Sente-se bem que tal música soa dferente, que tal coisa causa uma outra impressão. Mas perder, cada vez mais, este sentimento de surpresa, não se espantar demesuradamente de nada, enfim, acomodar-se a tudo--eis o que se chama o sentido histórico, a cultura histórica."Nietzsche, acerca da Utilidade da História para a Vida