terça-feira, 25 de março de 2008

O modelo optimista socrático?

«Em face deste pessimismo prático, Sócrates é o arquétipo do optimismo teórico, aquele que, possuido por esta crença na inteligibilidade da natureza das coisas, atribui ao saber e ao conhecimento a força de um remédio universal e vê na ignorância o mal em si. Penetrar nas profundidades e separar o verdadeiro conhecimento da ilusão e do erro era, para o homem socrático, a missão mais nobre, a única missão verdadeiramente humana: de tal modo que, desde Sócrates, este mecanismo dos conceitos, dos juízos e dos raciocínios passou a ser considerado, acima de todas as outras faculdades como a actividade suprema e o dom mais admirável da natureza.Até mesmo as acções morais mais sublimes, os movimentos da piedade, do sacrifício, do heroísmo e essa calma profunda que os Gregos designavam de sofrosine foram deduzidos da dialéctica do saber e considerados como passíveis de ensinamento por Sócrates e por todos os seus herdeiros de pensamento até aos nossos dias. Quem experimentou o prazer do conhecimento socrático e sentiu como este procura abarcar em círculos cada vez mais amplos todo o mundo dos fenómenos, jamais será possuido por um aguilhão tão forte capaz de o incitar a viver, como é este desejo de levar até ao fim esse processo lógico de conquista e de o tecer numa rede intrasponível de malhas muito apertadas. Quem se conservar nesta predisposição não poderá deixar de ver no Sócrates de Platão o mestre que ensina uma forma absolutamente nova da «serenidade grega» e da felicidade da existência que procura revelar-se em actos e que, na maioria das vezes, o consegue, através da acção educativa e da maiêutica que exerce[ com o fim último de produzir o génio] sobre uma elite de jovens e nobres espíritos». Nietzsche, A Origem da Tragédia.

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