domingo, 27 de maio de 2012

METÁFORAS DA VIDA

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Ah, vida errante!, como são genuínas e vermelhas
As metáforas puras que te atiro ao espelho...
Como que a desafiar-te nas parcas do destino
A iluminar este meu inocente desatino;
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Porque não as pintas-sorris-me tu-estrelar-
Com o azul do céu ou a branquidão do luar?
Em vez de as carregares no vermelho da vertigem
Como estremecem os barcos às vagas do mar!
*
E como poderias tu?-nesse jogo felino-
Desfolhar-me os leques do destino!
Se em cada enigma meu
Cada uma das tuas metáforas
Não passa de um desatino teu...
*
Ah, vida pura! Instante doirado!
No espelho agora um sorriso duplicado:
O teu que é total e cifrado
E o meu colorido de paixão
Mas desta vertigem puramente aliviado!...

Véu de Maya

quinta-feira, 24 de maio de 2012

SONATA DA SAUDADE


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Não te percas no vento
Minha aurora do desejo
Traz-me antes no momento
A saudade em que me revejo;

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O teu coração é divino
Mas cheira-me a uma linda orquídea
Já o meu é tão terreno
Que só no teu embarcaraia;

*
Na bruma do teu olhar
Transita o vento e o luar
Mas é no livro da tua alma
Que páro para os aprofundar;

*
Quando ficas longe de mim
Eu ando à deriva no mar
Mas não penses que é por não ter barco
Pois é simplesmente por te amar!...
Véu de Maya 

segunda-feira, 21 de maio de 2012

AH, VIDA LOUCA...PARA HIPOCONDRÍACOS E NIILISTAS


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Ai vida!, desvelo em ti tantos passarinhos,
Deitados em suas asas puras e branquinhas
A voar inocentes e direitinhos
Até se suspenderem leves nos mantos do céu...
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E eu-que me abismo tão peregrino e terreno!
Onde queimei eu essas asas leves
Que antes mas agora já não me levam ao céu?
*
E por ficar assim tão frágil
Tenho de viver na terra e superar-me
 Incerto nos desafios secretos do véu!
*
Ah, vida louca!, porque me seduzes tanto...
Que só a ti amo e não preciso doutra amante
Para arder na tua paixão de alegria e pranto
Tão exuberante em ti ...
Como noutro rosto semelhante?
*
Mas-já que és tão preciosa e breve-
Ó vida exuberante, minha rainha doirada...
Deixa-me arder livre na paixão do teu fogo
Pois enquanto arder em ti!
Sonharei livre-e de morte precoce-
 Ó vida soberana! A ti jamais matarei...

Véu de Maya

sábado, 19 de maio de 2012

ELEVADOR DO AMOR

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É a arte de persuadir a aldeia global
que os ventos da civilização são o mais nobre antídoto
contra a cegueira da barbárie e a vulgarização do mal;
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As fontes da felicidade comum
onde os critérios superiores de ética vital
se sobrepõem aos caprichos da felicidade individual;
*
A dor e a tristeza que invadem os povos
quando a sua existência os condena à aflição
de faltar o sentido da vida para os novos;
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A revolta e a triste indignação
que atravessam os laços da civilização
quando a barbárie triunfa sobre as luzes da razão;
*
A urgência de expandir em todo o cidadão
a cultura da saúde, da liberdade, e da acção
como a melhor fortaleza de todo o Estado ou Nação;
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A justiça do direito na raíz dos argumentos
onde se combate o atropelo e a mentira e a falsidade
e se celebra o amor ao planeta em notáveis monumentos;
*
É arte de persuadir a aldeia global
que os ventos da civilização são o melhor antídoto
contra a cegueira da barbárie e a estupidez do mal;
Combate do humano sobre a violência
e os sopros do amor que marcam o mundo
com a sua errante mas valiosa presença;
Cultura da saúde, da liberdade e da acção...
notáveis guerreiros contra a decadência
e na civilização uma eterna emergência!...
Véu de Maya

quarta-feira, 16 de maio de 2012

DÓI-ME O SILÊNCIO


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Dói-me a solidão
Que é refúgio forçado
Em vez de ser companhia sagrada;
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Dói-me a vertigem
Que é atracção pelo abismo
Em vez de ser profundidade na origem;
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Dói-me o silêncio
Que é refúgio solitário
Em vez de ser meditação doirada;
*
Dói-me a inquietação
Que é voragem acelerada
Em vez de ser plantação solidária;
*
E dói-me ainda mais a vilania insolente
Que sob os véus da elegância delicada
Destrói à vida como um veneno corroente;
*
Mas bendigo o silêncio
Onde ele é altar de meditação doirada...
E à vida onde ela é inquietação sublime
E plantação solidária...
E ao Mundo até que no seu coração
Floresça o amor...e se dilua a dor
Companheira da alegria
Como a aurora na madrugada!...

Véu de Maya

domingo, 13 de maio de 2012

DÓI-ME A ALMA


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Dói-me o gesto
que se enrola à lassidão
E já não vibra de ambição.
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Dói-me a virtude
que se evapora em alma
Mas não oferece o amor que salva.
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Dói-me a vida
 que se enlaça à saudade
Mas não é barco de liberdade.
*
Dói-me o mundo
 que confunde vertigem com voragem
E não projecta o futuro com grandeza e coragem.
*
E dói-me ainda mais a perversidade deliberada
Que sob os véus da verdade sagrada
Envenena à vida como uma hidra endiabrada...
*
Mas bendigo o Silêncio
 Onde ele é fonte de amor que salva...
E à Vida
Onde ela é paixão forte e barco de liberdade...
E ao Mundo...
 Até que no destino da vida?
Triunfe o amor...e se dilua esta dor
 Como no fado a saudade!...

Véu de Maya

quinta-feira, 10 de maio de 2012

TOCATA ESTRELAR


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Entre a saudade que é o fado da vida
E o amor que é barco em mar profundo
Circula o ódio vão que ao amor desgraça
E a estupidez crassa que ao mundo desbarata!
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Entre a fortaleza do amor
Em rotas firmes de conquista e dor...
E o ódio vão que se trivializa louco
Por achar tão pouco o mal que sempre faz...
*
Brilham as estrelas que à noite escura iluminam
E os sonhos que à vida sob cores exóticas suavizam!
*
Mas dói tanto esta vertigem profunda
Que por ser tão triste só o Sol a ilumina!
Tal como ao ódio gratuito só o combate duro
E à dor profunda esta tocata que a sublima!...

Véu de Maya

terça-feira, 8 de maio de 2012

PAIXÕES DE POETA


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Ai as paixões dos poetas
Não as amarra ninguém:
São livres como as borboletas
Que são felinas também!
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Transitam no mar e na terra
E ao luar ficam estreladas...
São bacantes na Primavera
Mas andam sempre extasiadas!
*
Só quem as entranha no corpo
E dança à sua loucura...
É que as pode foguear na alma
E embriagar-se na sua frescura!
*
E eu que as desfloro a dançar
E vou à fonte vital das festas...
Sou como as borboletas no ar
Trago a paixão virginal dos poetas!...

Véu de Maya

segunda-feira, 7 de maio de 2012

VOO LONGÍNQUO


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Entre as estrelas que nos olham
E os ventos que desfolham
 Ergue-se a vida que a tudo transforma
E vence a morte que tudo devora!
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Entre a vida incerta que nos projecta
E a sibilina morte que a tudo seca
Gira o tempo tenso que nos desperta
E o Universo imenso que nos inquieta!
*
 Mas entre nós e o destino que nos prende...
Baila o efémero da vida que nos desafia
E o brilhar das estrelas que nos surpreende
No olhar suspenso do voo que nos ilumina...
*
Até que na nossa aventura de viver
 A vida se tenha exaurido-por inteiro-no seu florescer... 
E face às vestes sombrias da inelutável morte
Entregue lealmente o seu nobre passaporte.

Véu de Maya