domingo, 30 de março de 2008

duas concepções de liberdade: a liberal e a republicana?

RELATIVIDADE. ESCHER

«Em oposição a esta primeira concepção de liberdade, intrinsecamente liberal [no sentido em que é inseparável da teoria dos limites do Estado], Isaiah Berlin evoca, no seu famoso ensaio, outra concepção que discute e recusa, cuja teoria se preocuparia menos com a extensão do poder reconhecido a cada pessoa do que com a origem deste poder de agir que é o seu. Com efeito, para a teoria da liberdade positiva, a questão crucial já não reside em saber de que somos senhores mas antes: quem é o senhor? Somos nós próprios ou outrém?Nesta perspectiva, os cidadãos de um Estado são livres se são eles próprios que governam, directa ou, as mais das vezes indirectamente: desta vez, já não é a independência que define a liberdade, mas a autonomia-o facto de a pessoa estar na origem das leis que reconhece, e já não a latitude da acção. Aquilo que Taylor, no seu texto sobre liberdade negativa, atribui a Rousseau e a Marx e, mais geralmente «aos que pensam que a liberdade reside, pelo menos em parte, no controlo colectivo que podemos exercer sobre a vida em comum». Mais concretamente: a liberdade, nesta óptica, é concebida segundo um conteúdo específico ou determinado, que consiste o em querer isto ou aquilo indiferentemente(desde que não seja proibido), mas em visar certas finalidades em vez de outras-finalidades essas que, supostamente, permitirão realizar melhor em nós a humanidade do que o poderia fazer a mera satisfação dos nossos desejos mais imediatos. É neste sentido que, em conformidade com esta segunda noção, a liberdade pode ser considerada «positiva», porquanto consiste, não apenas na liberdade de entraves( tendo em vista um qualquer objectivo), mas na realização de fins expressamente( e, logo, positivamente) visados e que definem um ideal pleno de conteúdo.



Importa acrescentar que, segundo Berlin, essas duas concepções de liberdade implicam valores profundamente antagónicos-a ponto de constiuirem, para ele , o exemplo dessas questões normativas finais às quais é impossível, no seu entender e segundo uma perspectiva bastante próxima da temática weberiana da «guerra dos deuses», dar uma única resposta, que exclua todas as outras respostas possíveis e que supere radicalmente os conflitos das posições em presença. Dito isto, no conjunto das respostas inconciliáveis susceptíveis de serem dadas à questão da liberdade[no caso concreto as duas respostas] e entre as quais - no entender de Berlin e precisamente devido à sua posição sobre os conflitos de valores- estamos condenados a escolher, ele não hesita em optar claramente pela concepção da liberdade como liberdade negativa.» História da Filosofia Política, vol ४, Direcção de Alain Renault

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