domingo, 30 de novembro de 2008

À JANELA

À JANELA_EDVARD MUNCH [Ouvir Mozart- Piano Concerto nº 21-barra de vídeo]
*
Sonho que alcanço toda a poesia do Mundo
Onde se ilumina a embriaguês do mistério,
E que recolho no seu ar o cheiro profundo
Das vidas inundadas pelos risos do efémero...

*
Sonho que viajo em nave espacial a toda a hora
Onde brilha a luz dos astros e as cores da fantasia,
E que tudo sopra veloz na esfera estrelar da poesia
Como o eterno que é dor e alegria sem demora...

*
Sonho que ando no carrossel da felicidade do Mundo,
E que ele é a cada instante a beleza do amor profundo
Como a roda sagrada de todas as encruzilhadas...

*
Mas, ironicamente, quanto mais vou girando,
E nos carrosséis da felicidade vou andando,
Mais vogo, triste, elos vazios de rodas descarriladas...



Véu de Maya

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

PRESENTE DE AMIGO EM DIA DE ANIVERSÁRIO

GUARDA-CHUVAS_P. AUGUSTE RENOIR


[ouvir Celine Dion-Think Twice-barra de vídeo]

Obrigado pela lindas imagens que me enviaste, por email...Não tenho à mão imagens tão belas para retribuir...envio-te apenas estas palavras que muitas vezes também são bonitas!
As palavras dizem, contam, descrevem, provam, justificam e explicam. Com palavras podemos fazer muitas coisas às pessoas: prometer, elogiar, bendizer, amaldiçoar, ameaçar e ofender. Com elas acariciamos e exprimimos o nosso amor; com elas fazemos mal e ferimos, projectando o nosso ódio.
Há palavras que abatem, arrasam, aniquilando uma pessoa, mas há também as que nos acalentam, nos pôem em pé, nos sustentam e dão vida.
O que nos dizem pode tornar-nos felizes, ou então, empurrar-nos pela ladeira da desventura e infelicidade. conheçamo-las e estejamos conscientes do seu poder. Respeitemo-las e saibamos usá-las para que se tornem um arma dócil e obediente, fazendo exactamente o que queremos que elas façam, não prejudicando ninguém.
Apreciemo-las no seu poder e contemplemo-las nos matizes com que se apresentam: há palavras de muitas cores e podem ser proferidas em muitos tons, traduzindo a alma de quem as diz.Por isso podem ser perigosas, traidoras, revelando aos outros o que não lhes queremos mostrar!

Eugénio de Andrade diz-nos a seu respeito;

são como um cristal
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio,
Outras,
Orvalho apenas,

Secretas vêm, cheias de memória.
inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem,

Desamparadas, inocentes,
leves.
tecidas são de luz
e são a noite
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta?
Quem as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?


Pois é as palavras seduzem-nos:
como o cristal, são duras e, simultaneamente, frágeis e delicadas!
Conseguem camuflar os maiores segredos do mundo!
Atraem-nos pelo brilho e musicalidade; simultaneamente são capazes de nos devorar, precipitando-nos no mais fundo dos abismos.
Elas são, de facto, no dizer de Eugénio, como um cristal. E, com ele, perguntamos também: Quem as escuta? Quem as recolhe, assim, cruéis, desfeitas, nas suas conchas puras?
Não dês importância a estas reflexões.
Aceita só um abraço.
Miguel Leitão, 25 de Novembro, 2008





quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O ALTO VALOR DA EDUCAÇÃO

O NASCIMENTO DE VÉNUS_SANDRO BOTTICELLI
[ouvir Celine Dion-Power of Love-barra de vídeo]
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É o alto valor da educação na missão das instituições
onde se levanta o contributo e a riqueza de cada geração
para o futuro de todas as gerações;
*
a renovação da herança e o testemunho
onde cada geração honra o tesouro recebido
para o passar com marca original ao futuro enriquecido;
*
a aflição e o incrível vazio
onde as novas gerações se afundam
quando as anteriores perderam o brio;
*
o amor entre gerações
onde sonham a vida e a felicidade e o futuro
como pilares e orgulho de todas as civilizações;
*
o declínio e o desespero
onde a sociedade e a cultura se desagregam murchas
quando perdem o sal da vida que é o seu melhor tempero;
*
O sopro da liberdade e as colinas da ambição
onde transbordam no cidadão e nas gerações
o amor pelo universal e o triunfo das realizações;
*
a distância e o choque entre as gerações
onde se separam ou guerreiam sem laços nem sorte
quando a felicidade esmorece e a vida naufraga sem norte;
*
É amor e conflito entre gerações,
atraso e progresso nas civilizações,
herança e testemunho
sobre o que é pobre e valioso e profundo;
Declínio e desespero,
quando na vida e na cultura
falta a felicidade e o tempero;
Cuidado e realização
na missão de cada geração,
e a poesia como amor e libertação!...



Véu de Maya

sábado, 22 de novembro de 2008

A RODA TRÁGICA

A GRANDE GUERRA_RENÉ MAGRITTE

[Ouvir Amália Rodrigues-com que voz- barra de vídeo]
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É a génese dos seres e a roda do acontecer
onde a unidade primordial os condena
à alegria do viver e ao inexorável morrer;
*
o sonho da infância e a verdade da recordação
onde a vida da criança está para o adulto ser
como a luz do Sol está para o amanhecer;
*
o tempo da fadiga e a bela ilusão
onde flutua na expectativa do que irá acontecer
e se rejubila no enigma de cada reaparecer;
*
a ambição festiva e a celebração do viver
onde cai no nó de que só é forte o querer
que fortalece mais a vontade e o poder;
*
a força das coisas e a aventura humana
onde a liberdade erra e sonha mas fica presa
porque a vertigem a faz rodopiar depressa
*
a bela-alma e o estar-desperto no Mundo
onde a fuga ingénua ou a ancoragem segura
são os indeléveis da travessia de fundo;
*
o despertar, a passagem e o morrer
onde todo o ser é transitar, viver e sofrer
na alegria trágica da vida sempre a renascer;
*
É o ser e a roda do acontecer,
o poder do acaso, do jogo, e do caos
onde a vida nasce transita e volta a morrer;
Querer mais para lá do desejo do poder
onde o sofrer não mata o querer
mas só o querer resigna o sofrer;
Trágica alegria da cósmica presença,
na vida humana, rápida e forte,
e na poesia, serena, é a sua sorte!...


Luís Lourenço





quarta-feira, 19 de novembro de 2008

VIDAS SAGRADAS E PAIXÕES ARDENTES

MAGIA NEGRA_ RENÉ MAGRITTE

[ouvir Moonlight Sonata_Beethoven-barra de vídeo lateral]

*
Vidas claras, quentes e sagradas,
Das paixões ardentes na nascente
Como o Sol das praias vadias no poente,
E a embriaguês louca nas madrugadas...

*
Desfolho uma orquídea envergonhada,
Atiro-a pró céu, qual ardente estrelinha,
Partilho com ela à sedução dançarina
E aos risos do prazer, brisa na madrugada...

*
Os jactos de prazer escorrem à flor da pele
Nossos beijos são doces como o mel
Enfeitiçou-nos o doce sabor às amoras...

*
Somos a vida e o navio, e a ilha voluptuosa,
E, ingenuamente, na madrugada silenciosa
Qual paixão? o encanto das nossas horas!...

véu de Maya


segunda-feira, 17 de novembro de 2008

HORAS RUBRAS

O SEDUTOR_RENÉ MAGRITTE[ouvir Beethoven-Fur Elise- barra de vídeo lateral]
*
Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos rubros e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
onde há risos de virgens desmaiadas...

*
Oiço olaias em flor às gargalhadas...
Tombam astros em fogo, astros dementes,
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata pelas estradas...

*
Os meus lábios são brancos como lagos,
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras...
*
Sou chama e neve e branca e misteriosa..
E sou, talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!


Florbela Espanca

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A VOZ DOS VENTOS

A VOZ DOS VENTOS_RENÉ MAGRITTE[ouvir-Cavaleiro Monge-Mariza-barra de vídeo, a partir do replay]
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É o sonho da vida no voo da verdade
onde a verdade não levanta voo da vida
mas voa sobre a vida na sua própria pluralidade;
*
o projecto da vida no sonho da liberdade
onde o projecto não é a verdade ser senhora da vida
mas a vida ser senhora do projecto e da verdade;
*
o percurso e a pluralidade dos caminhos
onde a verdade sobre a vida é por ela deambular
e dela exalar o cheiro de seus perfumados cadinhos;
*
a roda da afirmação e a jubilosa alegria
com que a frágil verdade e a preciosa vida
chegam a entrelaçar-se numa pujante harmonia;
*
o grande cansaço e a perigosa fadiga
onde a verdade pode escapar-se da vida
e a sua paixão alienar-se numa triste fantasia;
*
a contradição da vida no segredo universal
onde a dor abundante e a escassez da alegria
ocultam mum misterioso véu o seu ser primordial;
*
a bravura da vida à hora da realidade
onde a liberdade quebra a casca da fantasia
e imprime ao projecto toda a garra e veracidade;
*
É o sonho da vida no voo da verdade
e a viagem da vida no sonho da liberdade;
a alegria plena e a absoluta aspiração
na roda sagrada da afirmação
onde a vida e a verdade podem chocar
em ardente e trágica contradição;
A bravura da vida à hora da realidade
onde a liberdade sem cortar com a fantasia
é ela própria a rainha e a felicidade!...



Luis Lourenço

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O CAMAROTE DO AMOR

CAMAROTE DO AMOR_PIERRE A.RENOIR[Because You loved me- Celine Dion- no replay- barra de vídeo]
*
A poesia do amor, a eterna!
É como a felicidade que dança
Nos olhos de uma criança
E que só com o amor se alcança.
*
Com as vestes da fantasia
Abre as portas ao mistério.
E com os acordes da alegria
Toca o insensível do Universo.
*
Mas como neste jogo é nada,
Leve sombra do viajante na estrada.
Acrescenta o pleno da alegria
A cada instante de vida dourada...
*
Como o céu numa noite estrelada,
E o orvalho nos alvores da madrugada.
E como a bravura dos que a trazem ao colo
A emoção do Mundo vertida em leve esperança...
*
A poesia do amor, a eterna!
É como a ilusão que brilha
Nos olhos de uma criança.
E que só com a paixão se alcança!...


Luís Lourenço

sábado, 8 de novembro de 2008

A CHAVE, A MÃO E A PALAVRA

A CHAVE E A MÃO_TAMARA DE LEMPICKA
[I Surrender-Celine Dion-no replay, barra de vídeo]
*
É a vida do Mundo no sopro da linguagem
onde o pensamento é como um pássaro longínquo
que mal entardece numa voa logo para outra paragem;
*
a variedade do ser no voo do pensamento
onde a palavra não é só o sémen da realidade
mas a fonte e o brilho da paixão pela eternidade;
*
a brisa da liguagem nas brechas da realidade
onde o véu enganador do fragmento e da separação
volta a deixar ver inteira e clara a sua primordial união;
*
o espelho do ser e do horizonte
no eros da linguagem e do pensamento
onde ambos se banham na mesma fonte;
*
um raio de luz na névoa do ser
onde a palavra acaricía a frescura dos sentidos
e ao silêncio do pensar os volta a trazer
depois de adormecidos;
*
o voo da inspiração e do inefável
onde se juntam a núvem e o Sol e a promessa
do que no Mundo só é real se não se construir à pressa;
*
o amor do pensar na estética da palavra
onde a vida se aquece na lareira do ser
como os foguetes bailam nas horas da festa brava;
*
É a vida do Mundo no sopro da linguagem
e a brisa da linguagem nas brechas da realidade
onde o véu da aparência mostra agora a claridade;
O espelho do ser e do horizonte
a despertar da soberana fonte
onde todo o sentido é uma ponte;
O berço da inspiração e da aventura
onde todo o sentido já adormecido
volta a voar na poesia enriquecido!...



Luís Lourenço

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

HOMENAGEM À POETISA CECÍLIA MEIRELES

A PRIMEIRA SAÍDA_PIERRE A.RENOIR

[escutar música de Celine Dion-Im alive-barra de vídeo ao lado]
*
A vida só é possível
reinventada.
Anda o Sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vêm de fundas piscinas
de ilusionismo...mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Vem lua, vem, retira
as algemas dos meus braços
Projecto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço...
Só...no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só- na treva,
fico:recebida e dada.

Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possivel
reinventada.


Cecília Meireles

terça-feira, 4 de novembro de 2008

A DESCOBERTA DO FOGO

A DESCOBERTA DO FOGO_RENÉ MAGRITTE [Escutar na barra de vídeo ao lado All By Myself de C.Dion]
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É silêncio e a vida do pensamento
onde o eterno se reconcilia com o efémero
e o volatiliza no que nele é simplemente etéreo;
*
a encruzilhada e os oraculares caminhos
onde o gesto criador se grava no eterno
como os sulcos primordiais nos pergaminhos;
*
O absoluto do ser e a arte no objecto
onde criar é uma luminosa expressão
da liberdade na arte e da felicidade no afecto;
*
a fonte apetecível e a sua irradiação
onde sem quem for que aí habite
não pode deixar de pressentir o convite;
*
a querida entrada e a confortável estadia
onde o cume da verdade, do sonho e do mistério
é amor donde nunca advém adultério;
*
a paragem e o sopro libertador
onde ao momento vem a eternidade
e à palavra a revelação da verdade;
*
o laço profundo e a sagrada comunhão
onde o tempo que é usura e a eternidade que é sonho
se fundem numa festiva e solene união;
*
É o silêncio e a vida do pensamento
eterno e efémero juntos num só momento;
Ser e absoluta criação no objecto
liberdade nas artes e felicidade nos afectos
fonte, irradiação e convite;
Paragem e sopro libertador
onde o tempo é instante e eternidade
e a palavra é colina e liberdade!..

Luís Lourenço

sábado, 1 de novembro de 2008

O LEITO DA MORTE

O LEITO DA MORTE_EDVARD MUNCH
[na barra de vídeo ao lado escutar Requiem de Mozart]
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É o voo misterioso ao sonho da morte
onde flutua na incerteza de saber qual será a sua sorte
e se do nada poderá ainda renascer igualmente forte;
*
a certeza absoluta de que essa palavra fatal
marca na vida dos indivíduos um insondável ponto final
mas é na espécie o retorno da vida ao seu vigor seminal;
*
o respeito pelo véu e pela dignidade dos mortos
onde florimos e choramos a triste despedida
dos que viveram como nós a dor e a alegria da vida;
*
a viagem para além da vida
onde se efabulam recompensas e castigos
e os crentes intercedem a Deus nos seus abrigos;
*
a dissipação da morte em poeira e nada
onde o descrente só imagina a fétida matéria
cuja energia chegou ao fim no fim da estrada;
*
o receio de morrer antes de ter vivido
porque na órbita precária do naufrágio e do navio
o mortal se afundou num calafrio insondável e sombrio;
*
o espelho da morte no sonho da vida
onde toda a acção tem por horizonte tal medida
e a vida paira frágil mas preciosa de ser vivida;
*
É o voo misterioso ao sonho da morte
e a bela incerteza flutuando na vertigem
de poder renascer igualmente forte;
Respeito pelo véu e pela dignidade dos mortos
flores e choros na triste despedida
dos que viveram como nós uma humana medida;
Efabulação sobre recompensas e castigos
ou dissipação da energia em poeira e nada
é o enigma da vida perante a última morada!...

Luís Lourenço