- A ideia moderna de democracia, por mais evidente que nos possa parecer hoje em dia, permanece complexa, atravessada como está por profundos equívocos, que determinam o alcance propriamente político de uma referência a esta ideia.
- No entanto, nada nos força a ver nesses equívocos, necessariamente, uma fraqueza da ideia democrática:pelo contrário, se se souber captá-los, talvez a reflexão possa transformar essa tensão numa oportunidade suplementar para os ideais democráticos.--no sentido em que a noção moderna de democracia, por conter intrinsecamente em si a possibilidade de vários modelos políticos, pode e deve permanecer um polo de debates fecundos e, portanto, uma ideia viva.
- A fim de dar uma real consistência a esta perspectiva e mostrar como pode ela alimentar a filosofia política contemporânea, não é inútil regressar ao episódio que desempenhou, sem dúvida, o papel de charneira nas transformações da razão política moderna, isto é, a origem e a evolução do par Estado/sociedade.
- Não é difícil perceber até que ponto este par de conceitos é intimamente solidário da definição do ideal democrático.Com efeito, é claro que--supondo-se que este par tenha sido produzido sob a forma de uma distinção entre a sociedade, como conjunto de interesses particulares, e o Estado como instrumento ou garante da sua coesão--a maneira como serão concebidas as relações entre os dois termos determinará dispositivos políticos completamente diferentes: num dos extremos, a redução da sociedade ao Estado fundará filosoficamente o projecto de um socialismo de Estado, ou mesmo totalitário, no interior do qual o Estado se tornaria a instância que pretenderia organizar, controlar e, em definitivo absorver a sociedade; no outro extremo, a redução do Estado à sociedade funda , sempre ao nível dos princípios filosóficos, o projecto anarquista de uma supressão total do Estado em proveito de uma socidade supostamente harmoniosa por si mesma।
- De certa maneira a ideia democrática descobre a sua consistência, se é que descobre, na determinação de um meio-termo entre estes extremos e, portanto, na concepção de uma irredutibildade recíproca dos dois termos: nem a dissolução anarquista do Estado na sociedade, nem a absorção totalitária do Estado na sociedade, mas a fórmula de uma autonomia da sociedade em relação ao Estado, que corresponde no próprio princípio, ao reconhecimento de semelhante irredutibilidade. H. da filosofia Política, 4, Direcção de A. Renault
segunda-feira, 10 de março de 2008
O binómio:estado/sociedade.
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