domingo, 29 de abril de 2012

A NÉVOA DOS TEUS OLHOS


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A névoa que vejo em teus olhos
 é ninfa como a bruma do mar...
Mas vem de vagas tãos rebeldes
 que cheira a brisa ao rebentar!
*
 Nas cordas da tua paixão
toco à virgindade dos risos...
Mas é nas irrupções do teu corpo
 que sou a harpa dos teus gemidos!
*
Nos teus olhos brincam sonhos
e nos meus vibram desejos...
 Mas é aos acordes da alma
que eles se embriagam risohos
e trocam espelhos por beijos!
*
 Entre os risos da madrugada
e o prazer dos teus folhos...
Rasga-se a volúpia sagrada
e a malícia dos meus olhos
em que te espelhas acordada!
*
Da ternura dos teus olhos
aos risos do meu olhar...
Todos os rios que correm por ti
 vêm desaguar ao meu mar!
*
 Quando te apartas de mim
 fico como a bruma de Outono...
Afago-te no meu cheiro distante
à espera que outra noite dançante
me leve outra vez até ti!...

Véu de Maya

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O MEU BARCO


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É o amor da viagem e o rumo do navio
que se desafiam um ao outro
com igual coragem e sangue frio;
*
O mar profundo e a arriscada travessia
onde os barcos no mar e na vida os sonhos
se enrolam nos seus enigmas;
*
O porto de partida e o porto de chegada
onde cada saída é uma nova partida
e cada partida é uma nova chegada;
*
As expectativas e a superação
que no navio são o ar e a respiração
e na vida a nobreza da missão;
*
A ambição e as descobertas
que se jogam belas e seguras
mesmo nos portos da hora incerta;
*
A fruição e as formas belas
que sopram durante o percurso
e se renovam em criações serenas;
*
A felicidade do mar e a aventura do navio
que mesmo quando ficam da vida ausentes
voltam no sonho a fazer-se sentir presentes;
*
É o amor da viagem e a arriscada travessia
onde os barcos no mar e os destinos na vida
se enrolam nos seus enigmas...
 Frágil círculo das partidas e das chegadas...
Onde, no mar que é metáfora e na vida que é luta,
transitam os humanos que marcam a sua passagem
Com as mais belas e terríveis pegádas!...

Véu de Maya

terça-feira, 24 de abril de 2012

TRAGO UM CRAVO...E O LUAR NA MINHA JANELA.


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Trago um cravo na lapela
E o luar na minha janela
Não nos roubem a liberdade
Porque a vida é cinderela...
*
Se cortarem esta flor-bela
Perderão o meu respeito
Pois sempre lutei por ela
Não quero ver o sonho desfeito...
*
Trago um cravo na lapela
E o luar na minha Janela
Não nos cortem a liberdade
Porque sem ela? Murchará a felicidade
E a vida? Esgotar-se-ia simplesmente,
Numa paixão triste, sem tela.

Véu de Maya

domingo, 22 de abril de 2012

Ó VIDA PEREGRINA!


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Porque me seduzes, ó vida peregrina,
Com os teus véus de feitiçeira atrevida!
Se quando te quero amar de verdade
Tu me atiras com volúpias mais de mentira?
*
Mas que retórica tola-retratas-me tu-
Ao desvelar-me com o teu espanto
No sorriso encantador de seduzir!
*
Como poderias-tão depressa assim-possuir-me,
Se eu sou a orgia pura no azar de quem arrisca...
E ao embalar-te com ilusões de verdade,
Sou a mais bela e arrojada peregrina
Nos lances sedutores da máscara e da mentira?
*
Ah, vida exuberante-aí-despertas-me de mim,
Ao banhar-me no teu caudal esfuseante
E girar nos teus labirintos de dor e euforia!
*
Até ser em ti-puramente-só laços ardentes do coração
E tu em mim, ilusões fortes e pomares de flores!
Ó vida pura! Ó mais bela impostora, sem pudores,
Como és tão verdadeira, até nas ilusões e nos amores!...

Véu de Maya

quarta-feira, 11 de abril de 2012

FLAUTA DE PÃ-actualizada.



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Somos o mar e a corrente
a plantação e a semente
o ar e a liberdade premente
o fogo do amor puro, inocente;
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Somos o labirinto trágico
e a medida do conflito
onde balança no Universo
tudo o que é belo e perverso;
*
Somos o navio e os faróis
as vagas e a aventura
a lentidão do caracóis
e a leveza das gaivotas;
*
Somos os acordes e os ouvidos
a música e os gemidos,
o eco dos mundos perdidos
na noite abissal dos conflitos;
*
Somos a liberdade incarnada
a vida nos riscos do nada
a aventura que é vertigem
na colina e na mirada;
*
Somos o tudo e o nada
a vida no sim celebrada
e a afirmação renegada
da liberdade sagrada;
*
Somos o silêncio profundo
e a palavra metáfora sibilina
o paraíso dos sons...
E esta música abismada
na mais perfeita surdina!...

Véu de Maya







sábado, 7 de abril de 2012

PRECE DO MEIO-DIA...BOA PÁSCOA...



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Não me dês só o Universo
dá-me também um Mundo
porque o tempo sem vida
seria como um abismo profundo;
*
Não me dês só um Mundo
dá-me também uma vida
porque o Universo sem vida
seria como um caos sem fundo;
*
Não me dês só uma vida
dá-me também o amor
porque a vida sem paixão
seria como uma flor esbecida;
*
Não me dês só o tempo
nem me dês só o mundo
Não me dês só a vida
nem me dês só o amor:
*
Dá-me tudo isto, com paixão,
agora e sempre, seja onde for,
Mas antes de tudo isto,
dá-me paz, sonho...e liberdade...
*
Porque sem essa realidade
o mundo seria só voracidade ou tédio
e a dor e a alegria da vida
não chegariam a ter verdade!...

Véu de Maya

quinta-feira, 5 de abril de 2012

DÓI-ME O RISO



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Dói-me o riso
que não traz à vida
a festa do juízo;
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Doí-me a dor
que não traz ao mundo
os laços do amor;
*
Dói-me a fraqueza
que se abraça à resignação
e já nem arrisca a superação;
*
Dói-me a força
que grita no silêncio
mas não transborda em gesto imenso;
*
E dói-me ainda mais
o grito que já não transborda
o deserto que alastra
e a vilania que retorna e grassa;
*
Mas bendigo ao silêncio
onde ele é grito e acto
e ao amor onde ele é livre gesto e laço;
E ao mundo até que no seu espelho
triunfe o amor
e se dilua a dor
que neste poema enlaço!...

Véu de Maya

segunda-feira, 2 de abril de 2012

QUE BELO RISCO!



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É o poder da dor e a bravura contra a opressão
numa âncora valiosa e exaltante
para arrancar o Mundo à escravidão;
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a força da alegria e o sabor da libertação
onde tantas formas doentes e sombrias
são arrancadas à sua cruel desagregação;
*
a ligação entre os seres e a rebeldia
onde se compelem a união e a separação
para os obrigar à sua inevitável missão;

*
o conflito e a pobre discórdia
onde se afundam a vida e a cultura
quando os povos perdem o sentido da glória;
*
a lucidez e a nobre resignação
onde o enigmático e poderoso Universo
acolhe o homem nos confins da sua reflexão;
*
a perda do eu e o êxtase deleitável
onde nos véus da visão se perdem os detalhes do ver
mas na roda do ser um caos festivo volta a acontecer:
*
a dor do vazio e da escravidão
indeléveis na ausência de ser e na triste humilhação
vergonha do homem e a coragem pela libertação;
*
É vazio e dor, coragem e libertação
paradoxo de sermos rebeldia e união
lucidez e nobre resignação
O Universo como indelével e condição
nas fronteiras da própria reflexão;
Silêncio do ser na totalidade englobante
onde o homem é apenas um guerreiro vacilante:
E o mais belo risco a aposta permanente
que diz absoluta à vida: estou presente!...

Véu de Maya



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