quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

voo longínquo/Chopin


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Entre as estrelas que nos olham
E os ventos que desfolham
Ergue-se a vida que a tudo transforma
E vence a morte que tudo devora.
*
Entre a vida incerta que nos projecta
E a sibilina morte que a tudo seca
Gira o tempo tenso que nos desperta
E o Universo imenso que nos inquieta?
*
Mas entre nós e o destino que nos prende
Baila o efémero da vida que nos desafia
E o brilhar das estrelas que nos surpreende
No olhar suspenso do voo que nos ilumina...
*
Até que, na nossa aventura de viver,
A vida se tenha exaurido-por inteiro-no seu florescer... 
E face às vestes sombrias da inelutavel morte
Entregue lealmente o seu nobre passaporte.

Véu de Maya

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Parca de Linho/Moonlight


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Por ti, ó ninfa, ergui altares,
Para ti nasci dos céus
Ao luar clareei teus véus
E tu-fellina!-os meus pomares
*
Quando o luar te apaixona
E a nossa aura fica louca
Sou néctar na tua boca
E tu a abelha que me aprisiona
*
Para ti criei as fontes
Donde jorram águas claras
E por ti subi aos montes
Onde sopram as altas vagas
*
Na volúpia em que te ocultas
Trazes o erotismo dos véus
Mas quando te vêm as luas
Até tu! não deixas de ir aos céus
*
Quando te enches de névoas
Que ao luar são só orquídeas
Afago-te nas minhas pérolas
E enrolo-me nos teus enigmas
*
Nas tuas praias de espuma
Os meus lábios são o mar
E se ficas sedutora como a lua
Há mais praias para dançar
*
Nas tuas vagas sou navio
E no teu corpo rio
Mas é nos fios da alma
Que sou aurora de linho
A bordar o teu destino
*
Todas as noite que passam
Sem me vires florear a mim
Pergunto às estrelas do céu
Que em jactos de luar esvoaçam
Que mimos é que te levaram a ti!...
Véu de Maya

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Lonjura


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Não vou por ninguém:
Sou pela águia que voa,
E ao sonhar mais além,
Sou ainda o amor que sopra
E o declínio que vem
*
Nem vou só por mim
Ou pelo voraz pensamento:
Qual menino na ilusão do momento,
A cheirar flores no jardim,
sem se lembrar do cinzento.
*
Só vou pela vida
Que é um labirinto sem manto.
E pelos altares da embriaguês,
Onde gozo os véus que levanto.
*
Só vou pela vida
Que é o meu mágico encanto.
E pelos voos altos em que a desafio,
Até a fechar no seu último suspiro...
E aí-redimí-la de tudo o que é pranto.

Véu de Maya

Deixo-vos o meu abraço, com afecto.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Alta Colina


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É a fonte de luz e a pressão da treva
Num frente a frente, onde a vitória
É a supressão da névoa;
*
A expansão do sujeito no objecto
Onde a actividade traz riqueza ao mundo
E a afirmação roda no eixo certo;
*
O nó do objecto e a rotação do sujeito
Como o enigma da esfinge no trágico herói
Cuja sagacidade liberta, mas enfeitiça e dói;
*
O gesto e a metamorfose
Que dão novas caras ao Mundo 
E no amor da fusão, aspiram à plena simbiose;
A medida certa e a virtude prática
Que na escala do amor à vida
São férteis similares à matemática;
*
O espírito e a alienação
Que trazem ao Mundo o devir e a contradição
Onde todo o vivo é dor e riso e transformação;
*
A renovação e o poder de criar
Que permitem aos homens viver e sonhar
E na terra os pomares voltar a plantar;
*
É ilha de luz e pressão da treva,
Actividade e alienação,
Poder de criar e de renovação
Na roda sagrada da afirmação;
*
Desejo e vontade, acto e metamorfose,
Onde tudo aspira à plena simbiose:
*
O enigma da esfinge
E o destino do edipiano herói
Que vai libertando, mas enfeitiça e dói!...

Véu de Maya