"Na verdade ninguém tem direito a um grau mais alto de veneração do que aquele que possui o instinto e a força da justiça, porque na justiça unem-se e fortalecem-se as virtudes mais altas e mais raras tal como num mar insondável que acolhe rios por todos os lados e os absorve nele. A mão do justo que está autorizada a fazer justiça não vacila quando segura a balança.Inflexivel por si mesma a mão do justo vai colocando os pesos. O seu olhar não se perturba quando os pratos sobem e descem e a sua voz não é dura nem suave, quando proclama a sentença. Se fosse um frio demónio do conhecimento, espalharia à sua volta a atmosfera glacial de uma majestade sobre-humana e assustadora que precisaríamos de temer em vez de venerar. Mas é humana e portanto tenta elevar-se da dúvida flutuante à certeza rigorosa, de uma indulgente tolerância ao imperativo«tu deves», da rara virtude da magnanimidade à virtude ainda mais rara da justiça: Assemelha-se agora a este frio demónio, mas na raíz mais não é do que um pobre humano; e sobretudo em cada momento expia sobre si próprio toda a humanidade; é tocado pelo que há de trágico numa impossível virtude.-tudo isso o eleva a uma altura solitária, como se fosse o exemplo mais venerável da espécie humana: porque ele quer a verdade, não sob a forma de frio conhecimento e sem consequência, mas como justiçeiro que ordena e pune; a verdade não como propriedade egoísta do individuo, mas como um direito sagrado a quebrar todos os limites da propriedade egoísta: enfim, a verdade como sentença do juízo final e nunca como uma presa capturada no voo e um prazer do caçador. É pois na medida em que o verídico possui a vontade absoluta de ser justo que há algo de grande nesta aspiração à verdade glorificada por todo o lado com tanto alarido.. Nietzsche, acerca da Utilidade da História para a Vida.
2 comentários:
a verdade absoluta, a interior
taõ insuficiente...?
A interior é obscura...A exterior é caótica...Só a procura se pode tornar valiosa para melhorar a confusão de ambas!...
beijinho
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