sexta-feira, 18 de abril de 2008

Política do entendimento ou da razão-alcance crítico ?

"A distinção entre política do entendimento e política da razão possui, em primeiro lugar, um fecundo alcance crítico no que se refere às políticas que pretendiam deduzir de uma teoria científica da racionalidade em acção na história as direcções em que deveria empenhar-se hic et nunc, a prática transformadora da sociedade. Baseado na convicção segundo a qual é possível apreender pela razão o sentido da totalidade histórico-social e as leis que regem o seu devir, o poder absoluto daqueles a quem Estaline chamava significativamente «os coriféus da ciência marxista-leninista» possui, como sublinhou justamente C. Castoriadis, um estatuto filosófico preciso:« Se existe uma teoria verdadeira da história, a direcção do desenvolvimento deve ser confiada aos especialistas dessa teoria, aos técnicos dessa racionalidade»- e isto sem limites, pois que, se essa teoria verdadeira pode ser propriedade de um poder, « esse poder deve ser absoluto», e qualquer limitação democrática do poder mais não é do que « concessão à falibilidade humana dos dirigentes». Observação que coincide plenamente com o modo como R. Aron identificou no marxismo todos os ingredienes daquilo a que chamava uma «religião histórica da acção», instalando no horizonte de semelhante política da razão o fanatismo como uma inquietante virtualidade: porque, «se o homem da Igreja detem a verdade universal, por que motivo não obrigaria ele o pagão a professar a Fé nova» e a agir no sentido do que as Escrituras revelam? « Nesta Religião sem alma», escreve ainda Aron, « todos os oponentes se tornam heréticos piores do que criminosos», se o valor absoluto de um fim, cuja realização a razão garante como certa, justifica, na acção que acelera a sua vinda, todos os cinismos, « que importa o preço do triunfo se o fim é sublime?»

Com esta denúncia das imposturas e dos fanatismos inerentes às políticas da razão não se esgota, porém, o alcance crítico da distinção entre política do entendimento e política da razão..." História da Filosofia Política, 4, Direcção de Alain Renault

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