sexta-feira, 11 de abril de 2008

Liberdade subjectiva e Modernidade?

«Nem Hegel nem os seus discípulos directos, à esquerda como à direita, pretenderam alguma vez pôr em causa as conquistas da modernidade-ou seja, a fonte onde a idade moderna ia buscar o seu orgulho e a sua autoconsciência. A era moderna gira primordialmente sob o signo da liberdade subjectiva. Esta realiza-se na sociedade sob a forma de um espaço de manobra garantido pelo direito privado para prossecção dos interesses próprios; no Estado enquanto participação-por princípio igual em direitos-na formação da vontade política; no foro privado, sob a forma de autonomia ética e auto-efectivação no domínio público relacionado com esta esfera privada; finalmente como processo de formação consumado através da apropriação da cultura tornada reflexiva. As figuras do espírito absoluto e do espirito objectivo assumiram também, da perspectiva do individuo, uma estrutura em que o espírito subjectivo pode emancipar-se da espontaneiade natural das formas tradicionais de vida. Neste processo, as esferas nas quais o individuo conduz a sua vida enquanto bourgeois, citoyem e homme vão-se apartando e autonomizando cada vez mais. No entanto, essas mesmas separações e autonomizações que, do ponto de vista da filosofia da história, desbravam caminho para a emancipação de dependências ancestrais, são simultaneamente experienciadas como abstracção, como alienação perante a totalidade de um contexto ético da vida. Tempos houve em que a religião foi o seu elo inviolável aposto a esta totalidade. Não foi por acaso que este elo se rompeu.

As forças religiosas de integração social entorpeceram na sequência de um processo de iluminismo que é tão pouco passível de regressão, quão pouco foi arbitrariamente engendrado. O iluminismo traz inerente a si a irreversibilidade de processos de aprendizagem fundamentais no facto de as formas de compreensão não poderem ser esquecidas a bel-prazer, mas sim e apenas reprimidas ou corrigidas por outra melhores. Por isso o iluminismo só consegue equilibrar as suas insuficiências através de um iluminismo radicalizado. Por isso Hegel e os seus discípulos têm de depositar as suas esperanças numa dialéctica do iluminismo onde a razão se valida enquanto equivalente do poder unificador da religião. Desenvolveram concepões de razão destinadas a pôr em execução um tal programa. Podemos ver como e porquê essas tentativas falharam» Habermas, Discurso Filosófico da Modernidade.

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