domingo, 27 de abril de 2008

A faculdade de esquecer?

BUTTERFLIES_ M.C.ESTER

"É, portanto, possível viver quase sem recordação, feliz como mostra o exemplo do animal, mas é absolutamente impossível viver sem esquecer. Se tivesse que me exprimir sobre isto de uma maneira mais simpes ainda, eu diria: há um grau de insónia, de ruminação, de sentido histórico que é prejudicial ao vivente e que acaba por o aniquilar, quer se trate de um homem, de um povo ou de uma civilização.

Para determinar este grau e através dele os limites dentro dos quais o passado deve ser esquecido sob pena de se tornar o coveiro do presente, seria necessário conhecer exactamente a força plástica de um homem, de um povo, de uma civilização, quero dizer esta força que permite desenvolver-se fora de si mesmo, de uma maneira que nos é específica, de incorporar as coisas passadas ou estranhas, de curar as feridas, de substituir o que se perdeu, de refazer as formas quebradas. Há homens que possuem esta força num grau tão mínimo que um único acontecimento, uma única dor, por vezes uma única e ligeira pequena injustiça os faz perigar irremediavelmente como se todo o seu sangue se escoasse por esta pequena fissura". Nietzsche, Da Utilidade e dos Inconvenientes da História para a Vida.

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