segunda-feira, 14 de abril de 2008

O êxtase dionisíaco?

Dois sátiros em transe dionisíaco. Quadro de RubensÓleo sobre madeira, 76x66 cm.

«Mas Nietzsche não era apenas discípulo de Schopenhauer, era contemporâneo deMalarmé e dos simbolistas, um defensor de l´art pour l´art. Por isso a consciência da arte contemporânea[radicalizada mais uma vez face ao romantismo] integra a descrição do dionisíaco-enquanto intensificação do subjectivo até ao auto-esquecimento total. O que Nietzsche apelida de «fenómeno estético» desoculta-se na concentrada convivência consigo própria de uma subjectividade descentrada, liberta das convenções quotidianas da percepção e do agir. Só quando o sujeito se perde, quando desencareira em relação às experiências pragmáticas do espaço e do tempo, é atingido pelo choque do repentino, quando vê realizada a « saudade da verdadeira presença»((Octávio Paz) e, perdendo-se a si próprio, se funde no momento; só quando as categorias do agir e do pensar razoáveis tiverem ruído, as normas da vida do dia a dia estiverem despedaçadas-só então se abre o mundo do imprevisto e do absolutamente surpreendente, o domínio da aparência estética que não oculta nem revela, não é manifestação nem essência e antes não é senão superfície. Nietzsche prossegue a purificação romântica do fenómeno estético de todos os aditivos teóricos e morais. Na experiência estética a efectividade dionisíaca é compartimentada e isolada através de um «abismo de esquecimento» contra o mundo do conhecimento teórico e do agir moral, contra o quotidiano. A arte não dá acesso ao dionisíaco senão à custa do êxtase-à custa da des-diferenciação dolorosa, da demarcação do indivíduo, da fusão com a natureza amorfa, interior e exterior.» Habermas, Discurso Filosófico da Modernidade.

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