sexta-feira, 2 de maio de 2008

O excesso de história prejudica a vida?

Metamorfoses de Narciso, 1937.Pintura surrealista de Salvador DaliO quadro que Dali mostrou a Freud no seu único encontro para lhe mostrar que era um dos seus melhores alunos.

"Todo o vivente tem necessidade de uma atmosfera, de uma auréola misteriosa. Sem esta envolvência-qual é a religião, arte ou génio, que não ficam condenados a gravitar como astros sem atmosfera! E não há que espantar por murcharem, endurecerem, esterilizarem.
É a lei que rege todas as grandes coisas, as quais, como diz Hans Sachs nos Mestres Cantores, «não se tornam vitoriosas sem uma réstia de ilusão»
Mas também todo o povo, todo o homem, que querem florir na maturidade, têm necessidade destas ilusões protectoras, de um auréola que os abrigue e os envolva. Hoje, no entanto, tem-se horror à maturidade, porque se faz mais caso da história do que da «vida». Pior ainda, glorifica-se até que « a ciência comece a reinar sobre a vida». É possível que acabe por se chegar aí, mas é certo que uma vida assim regimentada não vale grande coisa, porque ela é muito menos «vida» e acarreta menos vida para o futuro do que houve no passado, regida então não pelo saber, mas pelo instinto e por poderosas ilusões. Objectar-me-ão que o nosso tempo não deve ser a era das personalidades realizadas, amadurecidas, harmoniosas, mas a de um trabalho colectivo, o mais útil possível. Isto equivale a dizer que os homens devem ser dirigidos em vista das necessidades do nosso tempo, a fim de que estejam prontos para lançar mãos à obra; que devem trabalhar na oficina das grandes«utilidades» comuns, antes de estarem maduros, e mesmo para que não cheguem a estar maduros-porque seria um luxo subtrair uma grande quantidade de energia ao «mercado de trabalho». Cegam-se certas aves para elas cantarem melhor: não creio que os homens de hoje cantem melhor do que os seus antepassados, mas o que eu sei é que os cegamos demasiado jovens. E o meio, o meio apressado que se emprega para os cegar é uma luz muito intensa, muito rápida e muito vertiginosa; O jovem homem é conduzido, em golpes muito genéricos, através dos séculos : adolescentes que não entendem nada de guerra, de negociações diplomáticas, de política comercial, são cossiderados dignos de estar à altura da história política. E da mesma forma que o jovem homem galopa através da história, o homem moderno galopa através dos museus, ou corre para escutar concertos. Sente-se bem que tal música soa dferente, que tal coisa causa uma outra impressão. Mas perder, cada vez mais, este sentimento de surpresa, não se espantar demesuradamente de nada, enfim, acomodar-se a tudo--eis o que se chama o sentido histórico, a cultura histórica."Nietzsche, acerca da Utilidade da História para a Vida

1 comentário:

P. Páscoa disse...

Adoro as pinturas de Dali, dão asas à nossa imaginação, exercitando dessa forma a nossa mente.
Não leves a mal mas vou fazer um copy dessa pintura para a usar no meu blog.
Continua o bom trabalho!
http://metamorfosesvividas.blogspot.com/