segunda-feira, 21 de abril de 2008

A linguagem como pretensão de ciência?

"A importância da linguagem para o desenvolvimento da civilização reside no facto de que nela o homem se colocava num mundo próprio ao lado de um outro, posição esta que julgava suficientemente sólida para sustentar o resto do mundo em suas bases e tomar-se assim pelo senhor do mundo. Foi porque durante longos períodos de tempo o homem acreditou nos conceitos e nos nomes das coisas como sendo verdades eternas[aeternae veritates], que se outourgou este orgulho em nome do qual se coloca acima do animal: ele pensava realmente que a linguagem lhe permitia o conhecimento do mundo. O criador de palavras não era suficientemente modesto para acreditar que o que fazia se reduzia a dar designações às coisas; pelo contrário, julgava que pelas palavras expressava o conhecimento mais elevado das coisas: de facto a linguagem é o primeiro degrau no esforço que leva à ciência. É a fé na verdade encontrada que, também aqui, fez nascer fontes de força muito poderosas. É só muito mais tarde, nos nossos dias únicamente, que os homens começaram a entrever que tinham propagado um erro monstruoso pela sua crença na linguagem. Por felicidade, é demasiado tarde para que isso determine um recuo da evolução da razão que assenta sobre esta crença.A lógica também assenta sobre postulados aos quais nada corresponde no mundo real, por exemplo, o postulado da igualdade das coisas, da identidade da mesma coisa em diversos pontos do tempo: mas esta ciência nasceu da crença oposta[que havia certamente coisas deste género no mundo real]. O mesmo se passa com as matemáticas que certamente não teriam nascido, se se tivesse sabido primeiro que não há na natureza nem linha exactamente recta, nem círculo verdadeiro, nem medida aboluta de grandeza."Nietzsche, Humano, demasiado Humano, I

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