terça-feira, 1 de abril de 2008

A crítica nietzscheana da Modernidade?

(...)

Com efeito, quanto à sua essência ou, melhor, quanto ao seu princípio, o nietzscheanismo desenvolve-se a partir da articulação de três teses principais:

  1. Uma interpretação do ser como Vida: como é sabido, é uma constante no pensamento de Nietzsche considerar que «a Vida...é para nós a forma mais bem conhecida do ser», ou que « O ser, não temos dele outra representação além do facto de o vivermos» Vitalismo ontológico, portanto, que procede da recusa da concepção metafísica [platónica] do ser como estabilidade, permanência, imutabilidade: contra a velha cisão do ser(real) e do devir(aparente), pensar o ser como vida é conceber o real sob as ideias de mudança, de metamorfose, de pluralidade ,ou ainda, se preferirmos, apreendê-lo como histórico de uma ponta à outra.
  2. Uma interpretação da vida como vontade de poder: «Eis a minha fórmula: a Vida é Vontade de Poder» e conhece-se à proclamação de Zaratustra: « onde encontrei o vivente, encontrei vontade de poder». Consequentemente, se ser=vida e se vida=vontade de poder, então é necessário formular que a vontade de poder é« a essência mais íntima do ser», ou resumindo, que qualquer realidade é no seu âmago, vontade de poder;
  3. A interpretação da vontade de poder como vontade de adquirir sempre mais poder: se o ser, isto é a vida como vontade de poder, é essencialmente o esforço em direcção a mais poder, o real na sua integralidade resume-se a uma multiplicidade de lutas pela dominação, sendo assim atravessado por uma infinidade de relações de poder-que a fórmula que Deleuze classifica como fórmula do «profundo nietzscheanismo» de Foucault pretenderá justamente exprimir:« toda a forma é um complexo de relações de forças» Entenda-se:todas as formas que o real pode assumir são manifestações da vida como vontade de poder, como luta pelo poder e pelo seu aumento perpétuo e, por conseguinte, expressões de relações de forças.

A articulação destas três teses, tal como ela define a ontologia de Nietzsche, também é válida, como é evidente, para a realidade social-histórica: pensada por referência à ideia de Vida assim entendida, cada sociedade será um tecido de relações de forças complexas que se entrecruzam, de conflitos múltiplos que visam o poder e o seu reforço. As Críticas da Modernidade Poítica, Direcção de Alain Renault

4 comentários:

Olinda disse...

Curiosa, eu: tu, casaste com a eternidade? :-)

luis lourenço disse...

Quem me der, mas ela não me quer!
Fala com ela e pode ser que ela me deixe espreitar à sua janela.., para ver se ela é realmente bela.

Os gostos não se discutem...são tão intangíveis!...

Olinda disse...

Vou ter uma conversinha de pé de orelha com ela. Tranquilo. :-)

luis lourenço disse...

Obrigado pela serenidade...vou visitando os conteúdos e as formas do teu blog...

Com apreço