segunda-feira, 30 de junho de 2008

VERDADE E POLÍTICA

A CABEÇA DE MEDUSA_ PETER PAUL RUBENS óleo sobre madeira, 68,5 x 118 cm, Viena, Kunsthistorisches Museum

"A marca da verdade de facto, aquela que a torna prioritária para o pensamento político, é a possibilidade de poder ser desvirtuada pela falsidade deliberada ou vulgar mentira, aspecto bem diferente dos erros e das confusões que também podem ocorrer no quadro do seu estabelecimento e registo histórico; e se a vigilância quanto á forma como é estabelecida, em termos da imparcialidade histórica, é lógicamente necessária, torna-se ainda mais difícil e sobretudo perigosa, quando é pervertida ou negada com propósitos esvaziadores da própria essência da actividade política, razão pela qual é imperativo para o pensamento político, mantê-la sob o foco da crítica" Hannah Arendt, Verdade e Política.

domingo, 29 de junho de 2008

QUADRAS DA MINHA MÃE

A SIBILA DE DELFOS DESENROLANDO UM PERGAMINHO_M. ÂNGELO


Já não tenho pai nem mãe

Nem nesta terra parentes

Sou filha das tristes ervas

E neta das águas correntes

****

Quem tem janelas de vidro

Não pode atirar pedradas

Eu fui atirar às vossas

E achei as minhas quebradas

****

Azeitona miudinha

Que azeite podes dar

Homem pobre e sem dinheiro

Que amores hás-de arranjar

****

Mais quero amar uma pedra

Do que amar teu coração

Uma pedra não me foge

E tu foges-me sem razão

Tradição Popular

sábado, 28 de junho de 2008

NIETZSCHE: IDEIAS POLÉMICAS

LEITURA_ÉDOUARD MANET (1865-73?)Óleo sobre tela 61 x 74, Paris Museu de Orsay

"O que eu combato: a excepção que contesta a regra, em lugar de compreender que a manutenção da regra é que dá valor à excepção";

"Neste século de sufrágio universal, em que cada um se sente autorizado a ajuizar de todos os indivíduos e de todas as coisas, sinto-me pressionado para restaurar a hierarquia";

"Há um erro deveras popular: o de ter a coragem das próprias convicções, quando o que importa é ter a coragem de atacar as próprias convicções";

Nietzsche; Vontade de Poder

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Margem Esquerda: O �HOMEM� do s�culo XX

Margem Esquerda: O �HOMEM� do s�culo XX

AGOSTINHO DA SILVA:PENSAMENTOS

NO LAGO_PAUL GAUGIN, 1887Óleo sobre tela, 54 x 65 cm, Amesterdão, Rijksmuseum Vincent Van Gogh

"Se toda a escola devia ter uma biblioteca do que já se sabe, devia ser-lhe paralela outra, ainda mais fecunda, a do que não se sabe";

"Cada um de nós, como Homem, é inteiramente excepcional, simplesmente as condições da sociedade em que vivemos, obriga todos nós, a lentamente irmos parecendo uns com os outros";

"Quando alguma coisa é alguma coisa deixa logo de ser todas as outras, e isso é uma pena. O que é preciso é ser tudo ao mesmo tempo...ser e não ser são a chave do ser";

"Feche as embaixadas que temos e que não servem para nada, e em seu lugar abra tasquinhas com bons petiscos, boa música e gente divertida...foi assim que fizemos ao longo da História":

"O que importa não é educar mas evitar que os homens se deseduquem...porque cada um de nós é um ente extraordinário, com lugar no céu das ideias...seremos capazes de nos desenvolver, de reencontrar o que em nós é extraordinário e transformaremos o mundo";

"Os homens de acção são os oleiros de Deus e não te esqueças que até pensar é agir...se em Deus, ser e agir são a mesma coisa, no Homem o mesmo deverá proceder-se "AGostinho da Silva, Cadernos biográficos.14.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

A ERRÂNCIA E A DÚVIDA LIBERTADORA

NO BARCO Á VELA_GASPAR DAVID FRIEDRICH, 1819
É a errância e a dúvida libertadora
onde desponta uma refrescante aurora
com inéditas questões que varem os dogmas para fora;

***
a ilusão frágil de ser senhor de si e do Universo
onde sobre o real tudo é duvidoso e controverso
menos o que no pensar está inscrito e é o inverso;

***
o espanto frente à imensa natureza
onde a confiança no mecanismo e na ciência
dá lugar aos pilares de tão almejada fortaleza;

***
a humilde sabedoria das metamorfoses
no Universo, múltiplas, errantes e dispersas,
e no homem firmes se as mistura em doses certas;

***
o jogo da dúvida e da certeza
onde cada pergunta desafia a incerteza
e cada dúvida ambiciona por uma nova certeza;

***
o mito da certeza e a ilusão do sujeito
na claridade de uma nova dialéctica
onde a certeza do eu é apenas aspiração frenética;

***
o percurso, a dúvida, e o lugar da verdade
onde a certeza é a bela ilusão em que a dúvida repousa
antes de voar para uma nova imaginação da realidade;

***
É a dúvida e a viagem libertadora,
incerteza e errância no desconhecido;
Humilde sabedoria das metamorfoses,
no Universo e no homem
distantes mas conformes:
Percurso, inquietação e lugar da verdade
onde a dúvida repousa efémera e lúcida
num alegre despertar face à realidade
até subir a uma nova certeza e claridade!...
Luís Lourenço

terça-feira, 24 de junho de 2008

O VEU DA ILUSÂO

PRIMAVERA_SANDRO BOTICELLI
...Neste sentido o homem dionisíaco assemelha-se a Hamlet: ambos penetraram com um olhar profundo na essência das coisas: ambos viram e experimentaram o desencanto da acção, porque a sua acção em nada pode alterar a essência eterna das coisas, e acham ridículo e injurioso que se espere deles a pretensão de endireitar o mundo. O conhecimento mata a acção, para agir é indispensável que sobre o mundo paire o véu da ilusão-tal é a lição de Hamlet e não a lição gratuita de Hans, o sonhador, que de tanto reflectir e por excessivas possibilidades nunca se decide a agir. Não é a reflexão que nos impede de agir mas é o verdadeiro conhecimento e a visão da verdade ameaçadora que anulam todos os impulsos, todos os motivos de agir, tanto em Hamlet como no homem dionisíaco...", Nietzsche, A Origem da Tragédia

segunda-feira, 23 de junho de 2008

DIONYSOS

DOIS SÁTIROS_PETER PAUL RUBENS, 1618-19
Entre as àrvores escuras e caladas
O céu vermelho arde,
E nascido da secreta cor da tarde
Dionysos passa na poeira das estradas.

A abundância dos frutos de Setembro
Habita a sua face e cada membro
Tem essa perfeição vermelha e plena,
Essa glória ardente e serena
Que distinguem os deuses dos mortais.

Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, 22 de junho de 2008

INTERLÚDIO AMOROSO

AMETISTA_TAMARA DE LEMPICKA

As cerejas do teu pomar

Não as ponho nas orelhas

Mas com elas faço o jogo

Que o Mundo no teu olhar

Vem em meus lábios

Beijar...

Luís Lourenço

sábado, 21 de junho de 2008

ESCUTO

POETA DEITADO_MARC CHAGALL



Escuto mas não sei

Se o que ouço é silêncio

Ou deus


Escuto sem saber se estou ouvindo

O ressoar das planícies do vazio

Ou a consciência atenta

Que nos confins do universo

Me decifra e fita


Apenas sei que caminho como quem

É olhado amado e conhecido

E por isso em cada gesto ponho

Solenidade e risco


Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 19 de junho de 2008

MAS QUE RIQUEZA?

PAÍS DA ABUNDÂNCIA_PIETER BRUEGUEL, 1567

Um camponês, um cavaleiro e um letrado descansam de barriga para o ar debaixo the uma árvore que tem uma mesa posta. O escuteiro, à parte, vestido com uma armadura monta guarda e espera que lhe caia algo «no bico».Por trás da fantasia de um país lendário em que o alimento é abundante, existe a dolorosa experiência de fomes crónicas.Tachen Público

***
"A nossa época-que se esforça por socorrer eventuais misérias, por prevení-las, por combater antecipadamente as possibilidades de estorvos-é uma época de pobres. Os nossos ricos são os mais pobres de todos, porque o verdadeiro fim da riqueza é ignorado."Nietzsche, Vontade de Poder I

quarta-feira, 18 de junho de 2008

CARPE DIEM

HOMEM E MULHER CONTEMPLANDO A LUA_GASPAR DAVID FRIEDRICH, c.1824

Óleo sobre tela, 34 x 44 cm, Berlin, Staatliche Museen zu Berlin-Preussischer Kulturbesitz
***
"Havia um imperador que tinha sempre presente a fragilidade de todas as coisas, para impedir-se de atribuir-lhes excessiva importância e poder manter-se em paz com elas.
Eu acho que pelo contrário tudo tem demasiada importância para que possa ser tão fugidio; por isso procuro atribuir a eternidade à mínima coisa.
Serão acaso de lançar ao mar os bálsamos mais preciosos? A minha maior satisfação é que tudo o que foi é eterno, e que o mar o devolve à praia.
Nietzsche, Vontade de Poder, III

terça-feira, 17 de junho de 2008

O PASSEANTE INVISÍVEL

PASSEANTE INVISÍVEL_VIEIRA DA SILVA, 1949-51
Óleo sobre tela, 132x168 cm, São Francisco, Museu de Arte Moderna
***
Actualmente, é necessário falar por vezes grosseiramente e agir de igual modo. Ninguém, nem mesmo aqueles que nos são mais chegados, já compreende as delicadezas e os subentendidos.
Aquilo que não for proferido alto, o que não é gritado, não existe. A dor, as privações, a vocação, o prolongado dever e o grande triunfo sobre si mesmo...ninguém nota nada, ninguém adivinha nada.
A jovialidade passa por falta de profundidade, ainda que ela seja por vezes a alegria que sucede a uma longa e excessiva tensão, quem detecta isso?

Tenho convivido com actores e tenho-me esforçado por mostrar-lhes respeito. Contudo, ninguém pode imaginar como é para mim doloroso e penoso viver com comediantes; ou então com qualquer disfrutador fleumático, com espírito que baste.
Nietzsche, Vontade de Poder, I

domingo, 15 de junho de 2008

O ACTO SOLITÁRIO E A APOSTA DUAL

SONHOS TERNOS_PAUL GAUGUIN , 1894

É o acto solitário e a aposta dual

onde a vida do conceito e o ser da realidade

se fermentam um ao outro por igual;

***

o ser particular e o conceito universal

que se desafiam um ao outro na ilusão

de ser a sua verdade a verdade na palavra final;

***

a liberdade fechada na reconsolação singular

onde o eu sobe ao castelo de si para a reconfirmar

mas fica refém do real onde não a pode reconciliar;

***

o ser na casa de si e a felicidade no Mundo

onde a liberdade se torna viva e concreta

e aspira a ser mais que uma ilusão valiosa e secreta;

***

o ser particular e o conceito universal

onde a liberdade se torna o plasma do Mundo

e a felicidade pode voar em realizações de fundo;

***

a verdade solitária e a coragem colectiva

que se fundem uma na outra

até arrancar novas formas à vida;

***

o sentido da vida e a liberdade sonhada

que se orgulham de ser nos humanos

a utopia desejada e a ambição realizada;

***

É a verdade solitária e a aposta universal,

liberdade plena de si mas vacilante no Mundo,

onde a união entre ambas se converte

no trágico dilema que é a epopeia de fundo;

Procura solitária e coragem colectiva

ancoradas bem uma na outra

até arrancar novas formas à vida;

O poder trágico do elo cósmico-humano

trazido nobremente à filosofia!...


Luís Lourenço

sábado, 14 de junho de 2008

A ENCANTDORA DE SERPENTES?

LA CHARMEUSE DE SERPENTS_HENRI ROUSSEAU, 1907

Óleo sobre tela, 169x 189,5 cm, Paris Musée do`Orsay
  • "Dantes, o eu escondia-se no rebanho, presentemente, o rebanho esconde-se no fundo do eu»;
  • «À altitude conveniente tudo se assemelha e se confunde, os pensamentos do filósofo, as obras do artista e as boas acções»;
  • O que se perde em qualquer especialização, é a forma sintética que, na natureza, é a forma superior»

Nietzsche, Vontade de Poder I

quarta-feira, 11 de junho de 2008

AINDA A QUESTÃO DA JUSTIÇA?

MINERVA E O CENTAURO_SANDRO BOTICELLI; cerca de 1482Nas vestes de Minerva, a deusa da sabedoria, Boticelli colocou o emblema da família

*******

"Admitimos normalmente que uma discussão conduzida de modo ideal entre um grupo de pessoas tem maiores probabiliades de atingir uma conclusão correcta[se necessário mediante uma votação] do que as análises isoladas de cada um dos participantes. Qual a razão deste facto? No quotidiano, a troca de opiniões com outros limita a nossa parcialidade e alarga as nossas perspectivas; somos obrigados a ver a realidade através do ponto de vista dos outros e tomamos consciência da limitação das nossas posições. Mas, num processo ideal, a presença do véu de ignorância signfica que a imparcialidade do legislador é um dado adquirido. Os benefícios da discussão decorrem do facto de que mesmo os legisladores representativos têm conhecimentos e capacidades de raciocínio limitados. Nenhum deles sabe tudo o que os outros sabem ou consegue tirar as conclusões que só em conjunto se torna possível atingir. A discussão é uma forma de combinar a informação e de alargar o alcance dos argumentos. Os efeitos das deliberações em comum parecem melhorar necessáriamente a situação, pelo menos desde que se prolonguem no tempo." JOHN RAWLS; UMA TEORIA DA JUSTIÇA

terça-feira, 10 de junho de 2008

O PODER DA SAGEZA E DA JUSTIÇA

CÍRCULO LIMITE III_M.C.ESCHER
É o poder da sageza e da justiça
onde o humano e o divino se reconciliam
para fortalecer a acção e enobrecer a preguiça;
...
o apreço às partes e a felicidade geral
onde se conjugam múltiplas vontades
na aspiração da medida certa e ideal;
...
a força do igual e a riqueza do diverso
que desabrocham no jardim ético do Mundo
até o ser se ancorar e expulsar o inverso;
...
o sopro do homem e do Universo
onde o relógio da grande inquietação
é enfrentar e subjugar o perverso;
...
a justiça soberana e a sua irradiação nas leis
onde os povos erguem memoráveis instituições
para vencer a violência e não ficar da injustiça reféns;
...
a união pelo costume e a paixão pelo renascer
na vida dos cidadãos e na espontaneidade dos povos
onde o sobre-humano sempre pode reflorescer;
...
o sentido da dor e da grandeza
que aprofundam o coração homens
e neles marcam a tristeza e a fortaleza;
...
É o poder da sageza e da justiça,
combate da energia contra a preguiça,
apreço às partes e a felicidade geral
na aspiração da medida certa e ideal;
Sopro do homem e relógio do Universo
na luta contra o perverso;
Poder, Inocência e Caos,
fonte de toda a dor e alegria
onde mergulha inteira a filosofia!...
Luís Lourenço, Poética do Instante Filosófico.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

DEFINIÇÃO DE DESOBEDIÊCIA CIVIL

GRAVITAÇÃO_M.C. ESCHER
"Começarei por definir a desobediência civil como um acto público, não violento, decidido em consciência mas de natureza política, contrário à lei e usualmente praticado com o objectivo de provocar uma mudança nas leis ou na política seguida pelo governo . Ao agir desta forma apelamos ao sentido de justiça da maioria da comunidade e declaramos que, na nossa opinião moderada e ponderada, os princípios da cooperação social entre homens livres e iguais não estão a ser repeitados...

A desobediência civil -para além de ser um acto político- é também um acto público. Não só apela a princípios públicos como é praticado publicamente.Participa-se nela abertamente, fazendo-a anteceder de um razoável aviso prévio: não é uma acção secreta ou camuflada. Podemos compará-la a um discurso público, e tratando-se de uma forma de apelo público, da afirmação de uma profunda e consciente convicção política, ela tem lugar no forum público. Por esta razão, entre outras, a desobediência civil não é violenta. Tenta evitar o uso da violência, em especial contra as pessoas, não pela recusa de princípio em recorrer à força, mas porque esta constitui a expressão final da sua reinvindicação. Efectuar actos de violência susceptíveis de ferir e de causar mal é incompatível com a desobediência civil enquanto forma de apelo. Na verdade qualquer interferência com as liberdades de outrem tende a esconder a natureza de desobediência civil da acção em causa. Pode acontecer que, se este apelo não for bem sucedido, se recorra posteriormente à resistência pela força. No entanto, a desobediência civil dá voz a convicções de consciência profundamente sentidas: embora possa constituir um aviso e uma admoestação não é em si mesma uma ameaça..." JOHN RAWLS, UMA TEORIA DA JUSTIÇA.

domingo, 8 de junho de 2008

JUSTIÇA E POUPANÇA

As CRIANÇAS RICAS_FERNANDO BOTERO, 1968Óleo sobre, 98,1 x1 95,6.Colecção particular.

"Quando a população é pobre e a poupança difícil deve exigir-se uma taxa mais baixa de poupança; enquanto que de uma sociedade mais rica podemos razoavelmente contar com poupanças maiores, dado que o sacrifício real exigido pela poupança é menor. Pode acontecer que quando as instituições justas estiverem solidamente estabelecidas e todas as liberdades básicas efectivamente realizadas, a acumulação líquida exigida desça para zero. Ao atingir este ponto a sociedade satisfaz o seu dever de justiça conservando as instituições justas e salvaguardando a respectiva base material. O princípio da poupança justa aplica-se àquilo que, de acordo com as exigências da justiça, uma sociedade deve poupar. O desejo de os seus membros pouparem por outras razões coloca-se-se-se num plano diferente"

JOHN RAWLS, UMA TEORIA DA JUSTIÇA

sábado, 7 de junho de 2008

PERSPICÁCIA

PERSPICÁCIA_RENÉ MAGRITTE
Magritte pinta-se na sua ocupação de pintor. Mais do que isso, transmite a criação inerente a este ofício artístico. O ovo constitui o motivo, mas na configuração artística revela-se na leveza de um pássaro.
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"E quanto a mim que amo a vida, parece-me que os que melhor entendem a felicidade são as borboletas e as bolas de sabão, e todos os que se lhe assemelham"

Nietzsche, Assim Falava Zaratustra.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

EQUIDADE E JUSTIÇA?

MENINA COM ARCO_PIERRE AUGUSTE RENOIR,1885Óleo sobre tela, 125x 75 cm, Washington, National Gallery of Art

"Não se pode esquecer que o princípio da equidade tem duas partes, uma que indica como é que contraímos obrigações, ou seja, praticando volutariamente certos actos, e outra que estabelece a condição de que a instituição em causa deve ser justa senão de modo perfeito, pelo menos tão justa quanto é razoável esperar face às circunstâncias concretas. O objectivo desta segunda cláusula é garantir que a obrigação surgirá apenas se certas condições de fundo estiverem cumpridas. A aceitação ou mesmo o consentimento de instituições claramente injustas não dá origem a obrigações. É geralmente aceite que as promessas obtidas por extorsão são nulas ab initio. Da mesma forma, as estruturas sociais injustas constituem, elas próprias, uma espécie de extorsão, ou até de violência, e o consentimento que se lhes preste não é vinculativo. A razão para esta condição está no facto de que as partes na posição original insistirão para que ela seja imposta", JOHN RAWLS, UMA TEORIA DA JUSTIÇA,

quinta-feira, 5 de junho de 2008

AVENTURA DO ESPÍRITO[DIA DO AMBIENTE]

VASO DE PEÓNIAS NUM PEDESTAL_EDOUARD MANET,1864Óleo sobre tela, 93,2x 70,2.Paris Museu de Orsay

E aí, nessa extrema solidão, se produz a segunda metamorfose: o espírito torna-se leão. Decide conquistar a sua liberdade e ser o rei do seu próprio deserto.

Busca um último senhor; ele será o inimigo desse último senhor e do seu derradeiro Deus; ele quer medir-se com o grande dragão, e vencê-lo.

Mas o que é esse grande dragão que, doravante, o espírito recusa chamar seu senhor e seu Deus? o nome do grande dragão é «Tu -deves ». Mas a alma do leão diz: «Eu quero »

«Tu-deves» barra-lhe o caminho, brilhando de oiro, coberto de escamas, e sobre cada uma dessas escamas brilham em letras de oiro, estas palavras: «Tu-deves »

Valores milenários brilham sobre essas escamas, e assim fala o mais poderoso de todos os dragões: «Todos os valores das coisas brilham sobre o meu corpo.

Todos os valores foram criados no passado, e a soma de todos os valores criados , sou eu. Em verdade não deverá mais existir qualquer «eu quero»...Assim fala o dragão.

Meus irmãos para que serve ter este dragão no espírito? porque não será suficiente o animal paciente, resignado e respeitoso?

O próprio leão ainda não está preparado para criar novos valores; mas liberta-se a fim de se tornar apto a criar novos valores, eis o que pode a força do leão.

Para conquistar a sua própria liberdade e o direito sagrado de dizer não, mesmo ao dever, para isso meus irmãos é necessário ser leão.

Conquistar o direito a novos valores é para um espírito paciente e laborioso a mais temível das empresas. E por certo que ele vê nela um acto de banditismo e de rapina.

O que ele outrora amava como o seu bem mais sagrado, é o «Tu-deves » Deve agora descobrir a ilusão e a arbitrariedade na própria base do que de mais sagrado existe no mundo, e conquistar assim, pela violência, o direito a libertar-se dessa prisão: para exercer uma tal violência é necessário ser leão.

Mas dizei-me meus irmãos que pode ainda a criança, e de que o próprio leão seria incapaz? Porque deverá ainda o leão roubador tornar-se criança?

É que a criança é inocência e olvido, novo começar, jogo, roda que se move por si própria, primeiro móvel, afirmação santa." Nietzsche, assim Falava Zaratustra

quarta-feira, 4 de junho de 2008

DAS TRÊS METAMORFOSES DO ESPÍRITO

O TOCADOR DE LIRA_CARAVAGGIOÓleo sobre tela, 100x126,5 cm, Nova Iorque, colecção particular

« Que há de pesado para transportar? diz o espírito transformado em besta de carga, e logo se ajoelha, tal como o camelo, e deseja ser bem carregado.

«Qual a mais pesada das tarefas, ó heroi, pergunta o espírito tornado besta de carga, eu a quero assumir, a fim de gozar da minha força. " Nietzsche, Assim Falava Zaratustra.

terça-feira, 3 de junho de 2008

A TORRE DE BABEL

A TORRE DE BABEL_PIETER BRUEGEL, 1563

Bruegel coloca a reconstituição da TORRE na paisagem costeira-é graças ao mar que os Holandeses adquirem grande parte da sua riqueza. A TORRE encontra-se por isso à beira de um rio-de facto, o transporte das mercadorias de grande tonelagem, como as pedras e o mármore, fazia-se pelas vias navegáveis e não por terra, onde os caminhos não eram pavimentados. A pintura introduz no episódio bíblico várias referências à realidade, entre outras o panorama da cidade.

Os contemporâneos de Bruegel encontraram explicação para a sua situação pouco babitual[ uma sociedade «multicultural» onde era muito difícil as pessoas entenderem-se-em particular no campo da religião] na Bíblia, no relato da construção da Torre de Babel[Génesis, II]; o rei Nimrod queria construir uma Torre cujo topo chegasse ao céu: Deus, aos olhos de quem este edifício representava o desmesurado orgulho dos homens, castigou-os, introduzindo a diferença de línguas. Vendo-se desde então impossibilitados de se entender, os operários dispersaram-se deixando a obra inacabada. TASCHEN PÚBLICO