Nós só sentimos agrado para com os semelhantes-ou seja, pelas imagens de nós próprios-quando sentimos comprazimento connosco. E quanto mais estamos contentes connosco, mais detestamos o que nos é estranho: a aversão pelo que nos é estranho está na proporção da estima que temos por nós. É em consequência dessa aversão que nós destruímos tudo o que é estranho, ao qual assim mostramos o nosso distanciamento.
Mas o menosprezo por nós próprios pode levar-nos a uma compaixão geral para com a humanidade e pode ser utilizado, intencionalmente, para uma aproximação com os demais.
Temos necessidade do próximo para nos esquecermos de nós mesmos: o que leva à sociabilidade com muita gente.
Somos dados a supor que também os outros têm desgosto com o que são; quando isto se verifica, então recebemos uma grande alegria: afinal estamos na mesma situação.
E tal como nos vemos forçados a suportar-nos, apesar do desgosto que temos com aquilo que somos, assim nos habituamos a suportar os nossos semelhantes.
Assim, nós deixamos de desprezar os outros; a aversão para com eles diminui, e dá-se a reaproximação.
Eis porque, em virtude da doutrina do pecado e da condenação universal, o homem se aproxima de si mesmo. E até aqueles que detêm efecivamente o poder são de considerar, agora como dantes, sob este mesmo aspecto: é que "no fundo, são uns pobres homens"
Nietzsche, Vontade de Poder II
9 comentários:
Amoroso, amoroso é o post que acabei de fazer.
Muitos cumprimentos.
Nunca tinha visto a situação desta perspectiva:
"E quanto mais estamos contentes connosco, mais detestamos o que nos é estranho: a aversão pelo que nos é estranho está na proporção da estima que temos por nós."
Mas será? Será que o facto de gostarmos de nós, de ter uma auto-estima saudável não é a melhor forma de podermos ajudar o Outro? De aceitar o Outro?
O que eu vejo é que as pessoas que sentem um menosprezo por elas próprias, com uma baixa auto-estima são, em regra geral, pessoas intolerantes com as falhas dos outros. Por conseguinte, são pessoas que têm prazer de proferir criticas pejorativas aos demais e que se deleitam com as desgraças alheias.
Mas é muito bom ler opiniões diferentes e este post deixou-se a pensar...
Um beijo com muitas saudades.
Clara...o teu contraponto é muito inteligente e sensível...realmente estimar-se a si não siggnifica amar-se a si...deixando de fora o outro...mas talvez o utilitarismo sábio do egoísmo possa significar um crescendo no aprofundamento da vida e no combate a tantas fraquezas que atormentam o homem e cuja fatalidade não poderemos negar...Deste ponto de vista a gregarização excessiva do homem pode trazer um certo amolecimento...indesjável? a ideia do post é provocar a reflexão e o debate...viste isso muito bem...
xi-coração de saudade e admiração
questão sensível, a do auto
e
hetero espelhamento.
e o balanço entre concentração
e
dispersão, movimento
de coreografia (jogo?
nem sempre claro,
nem sempre distintivo.
beijo :)
~
Dir-me-ás se estiver correcto ou errado: este texto é anterior à ideia de super-homem, do banimento da culpa, do roteiro do desígnio?
Um abraço
Obrigado JPD!
Ese texto contém todo o fermento do homem que não quer apenas conservar-se mas aspira a superar-se...
abraço
são "ínvios" os caminhos do Amor.
porque é disso que aqui se fala. ainda. em vestes pagãs. claro.
abraços
so somos felizes quando podemos dizer que nao o somos
Jokas
Paula
Paula!
Isso é bem preferível à fatalidade de nem ter essa liberdade de aspirar a algo mais.
:)
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