sábado, 1 de novembro de 2008

O LEITO DA MORTE

O LEITO DA MORTE_EDVARD MUNCH
[na barra de vídeo ao lado escutar Requiem de Mozart]
*
É o voo misterioso ao sonho da morte
onde flutua na incerteza de saber qual será a sua sorte
e se do nada poderá ainda renascer igualmente forte;
*
a certeza absoluta de que essa palavra fatal
marca na vida dos indivíduos um insondável ponto final
mas é na espécie o retorno da vida ao seu vigor seminal;
*
o respeito pelo véu e pela dignidade dos mortos
onde florimos e choramos a triste despedida
dos que viveram como nós a dor e a alegria da vida;
*
a viagem para além da vida
onde se efabulam recompensas e castigos
e os crentes intercedem a Deus nos seus abrigos;
*
a dissipação da morte em poeira e nada
onde o descrente só imagina a fétida matéria
cuja energia chegou ao fim no fim da estrada;
*
o receio de morrer antes de ter vivido
porque na órbita precária do naufrágio e do navio
o mortal se afundou num calafrio insondável e sombrio;
*
o espelho da morte no sonho da vida
onde toda a acção tem por horizonte tal medida
e a vida paira frágil mas preciosa de ser vivida;
*
É o voo misterioso ao sonho da morte
e a bela incerteza flutuando na vertigem
de poder renascer igualmente forte;
Respeito pelo véu e pela dignidade dos mortos
flores e choros na triste despedida
dos que viveram como nós uma humana medida;
Efabulação sobre recompensas e castigos
ou dissipação da energia em poeira e nada
é o enigma da vida perante a última morada!...

Luís Lourenço

21 comentários:

Vivian disse...

..."o espelho da morte no sonho da vida onde toda a acção tem por horizonte tal medida e a vida paira frágil mas preciosa de ser vivida;"

...na fragilidade da vida
vive a fortaleza da alma
que sabe estar aqui de passagem,
sem portanto esquecer de florir
seu caminho...

bjus, poeta de palavras mágicas!

mdsol disse...

a única certeza que nos acompanha e, porém, tão pouco à vontade nos deixa!
:)))

ETERNA APAIXONADA disse...

O poeta querido tratou de um tema forte e polêmico, com muita sutileza e leveza...
Palavras sensíveis como a alma do poeta!
Que o fim de semana esteja de acordo com seus desejos!
Beijos com meu carinho.

Sombra de Anja disse...

A vida não passa de uma oportunidade de encontro; só depois da morte se dá a junção; os corpos apenas têm o abraço, as almas têm o enlace.
Victor Hugo

Beijão carinhoso

Unknown disse...

Andam a Vida e Morte de mãos dadas com o mistério...
Doce bj de encanto,
Sandra Ferreira,

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

A noite cai sobre mim
Beijando-me o corpo
Saciando-se de minha solidão
Esgotando-me as lágrimas que me caem do rosto

Inebriante escuridão, leva-me do dia
Encha-me os olhos com seus sorrisos negros
Acalma-me o coração com seus ventos de tormento
E suas figuras de alento
Sombras de sepulcro dilaceradas

Mística, amo-a a cada noite mais
Por estar tão próxima de mim!
Amo seus cantos
Venero seus encantos

Eternas minhas noites
Eternos sonhos negros
Beijos sombrios de sua boca

Não durmo mais por ti
Espero-a ansiosa
Desejosa de sua presença

Voando em seu olhar
Pouso em seu colo
E deixo que venha me amar!

Metamorfoseou-me em sua amante
Sinto paixão por teu vasto mundo...
Noturna escuridão!
Libertou-me!

A, poeta amado, lindo texto e a sinfonia...
*-*
beijos e borboleteios

vida de vidro disse...

Na verdade, a morte faz parte da vida. Porque nos será tão difícil encará-la? Gostei muito do teu poema/reflexão. **

Lúcia Laborda disse...

Oie lindo! eis o mistério... vencer a vida com a morte, ou ter uma morte em vida... vejo Nações brigarem por petróleo, terras e quando partimos, levamos apenas, os tesouros espirituais. Mas poucos estão preocupados em acumular esses tesouros.
Bom domingo! Beijos

Leonor Cordeiro disse...

Gostei muito do seu blog pois ele une duas coisas que moram no meu coração : poesia e pintura !
Li o comentário que você deixou no Sintonias do Coração sobre a blogagem coletiva HOJE É DIA DE CECÍLIA.
Gostaria muito que você participasse.
Venha enfeitar a blogosfera com a linda poesia de Cecília Meireles.
É só postar o selinho e deixar um recadinho no meu blog para que eu possa incluir o seu na lista dos participantes.

O link:
http://leonorcordeiro.blogspot.com/2008/10/hoje-dia-de-ceclia.html

Grande abraço!
Com carinho,

Leonor Cordeiro

Menina do Rio disse...

Nessa viagem para além da vida, a maior tortura é o medo de não ter vivido... Forte!

Um beijinho

mariam [Maria Martins] disse...

Obrigada por este post!
não consegui "falar" nada sobre... apenas uma seingela foto na lateral.

"Respeito pelo véu e pela dignidade dos mortos
flores e choros na triste despedida
dos que viveram como nós uma humana medida;"

boa semana
um grande sorriso :)

mariam

Gilbamar disse...

Bom, enquanto ela não vem tratemos de nos manter saudáveis e felizes, a meu ver a melhor receita para a felicidade.

Abraços fraternos.

Manuel Veiga disse...

belíssimo "requiem"...

que nos salva da "dissipação da energia em poeira e nada"...

gostei muito.

abraços

Sensualidades disse...

intrigante

Jokas

Paula

Maria Anjos Varanda disse...

a única certeza que temos na vida...
Gostei do "mistério" deste texto.

Um beijo

Zé Camões disse...

Este autor é simplesmente genial consegue dar uma profundidade bastante forte ás suas obras.
Cumprimentos.

Graça Pires disse...

Falar da morte porque se ama a vida...
Um abraço.

RENATA CORDEIRO disse...

O seu poema é tão lindo que me fez chorar.
Tive uma grande decepção amorosa este fim de semana e quanto mais velha se é, maior a decepção e a sua superação. Não sabia o que fazer, então fiz um post novo sobre um filme que adoro. Há poemas, imagens, o de sempre. Espero por você.
Um abraço,
Renata

Cleo disse...

Um enigma que nunca teremos resposta. lindo os versos "o respeito pelo véu e pela dignidade dos mortos". é verdade, respeitar os véus desse momento, e vivermos intensamente antes de virarmos pó.

Belíssimo poema.

Beijos e magnífica semana prá você.
Cleo

Marco Rebelo disse...

exelente imagem..a d cima :)

Carla disse...

a morte como contraponto da vida...as certas que fazem parte da nossa existência. Uma, a vida, que nem sempre sabemos viver, outra, a morte, que quase sempre tememos, enquanto fim que desconhecemos.
Perfeitas as tuas palavras
beijos