domingo, 4 de maio de 2008

Para além da Trafaria

_Minha mãe, haverá mundo
para além da Trafaria?

_Não sei, meu filho. Não sei
Tudo aquilo que sabia
já no meu sangue te dei.

_Que serras são estas, mãe,
que não nos deixam ver nada?

_São rugas que a terra tem.
Não maces a tua mãe.
Deixa-me estar descansada.

_Ó mãe, que rio é aquele?
Onde nasce e onde morre?

_Ó filho, é Deus que o impele.
Entretem-te a olhar para ele.
É um rio.Tém água. Corre.
_
Quando eu for crescido, mãe,
quero saber e entender.

filho, o supremo bem
é cada qual, com o que tem,
resignar-se e agradecer.
Deus faz tudo pelo melhor.
Não se engana nem se esquece.
De todo o mal, o maior
seria sempre pior
se Deus assim o quisesse.
Ninguém foge ao seu destino.
Está tudo determinado.
Não penses com desatino.
Dorme, dorme, meu menino,
um soninho descansado.

António Gedeão, OBRA POÉTICA

2 comentários:

Olinda disse...

Ai que cheirinho bom me trouxeste. :-)

luis lourenço disse...

É o perfume da Primavera!
Que cheira tão bem no seio maternal!...

Luís Lourenço