O liberalismo, como vimos, preocupa-se com um processo de recuo da liberdade, enquanto que o conservadorismo se preocupa com um processo de recuo da autoridade; ambos denominam o previsível resultado final como totalitarismo e vislumbram tendências totalitárias onde quer que o outro se manifeste. Não há dúvida que ambos são capazes de produzir excelentes justificações para as suas conclusões. Quem pode negar as graves ameaças à liberdade vindas de todos lados desde o início do século, e o aparecimento de todo o tipo de tiranias pelos menos desde o fim da Primeira Guerra Mundial? Quem pode, por outro lado, negar que o desaparecimento de praticamente de todas as autoridades tradicionalmente estabelecidas tem sido uma das mais notáveis características do mundo moderno? É como se precisássemos apenas de fixar o olhar em qualquer um desses fenómenos para justificar uma teoria do progresso ou da catástrofe , dependendo do nosso gosto ou , como se costuma dizer, da nossa própria«escala de valores».Se observarmos de modo imparcial as conflituantes afirmações de liberais e conservadores, facilmente podemos perceber que a verdade é partilhada por ambas as facções, e que no mundo moderno estamos de facto confrontados com uma simultânea regressão da liberdade e da autoridade.Hannah Arendt, Entre o Passado e o Futuro.
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