Foi após a morte de Sócrates que Platão começou a encarar a persuasão como insuficiente para a condução dos homens e a procurar algo capaz de os compelir sem o recurso a meios externos de violência.Logo no princípio da sua investigação terá ele percebido que a verdade, sobretudo, a que chamamos de auto-evidente, compele o espírito e que esta coerção, embora não necessite de violência para ser eficaz, é mais forte do que a persuasão e a argumentação. No entanto o problema com a coerção através da razão está em que apenas uma minoria está sujeita a ela, pelo que fica ainda por resolver o problema de como garantir que a multidão, as pessoas que pela sua própria pluralidade constituem o corpo político, possa ser submetida à mesma verdade. Aqui é evidente que outros meios de coacção devem ser encontrados, e também aqui a coacção pela violência deve ser evitada, para que a política tal como os gregos a entendiam, não fosse destruída. Esta é a dificuldade central da filosofia política de Platão, e que como tal permaneceu ao longo de todas as tentativas para estabelecer uma tirania da razão. Na República o problema é resolvido pelo mito final das recompensas e castigos no além, mito esse no qual o próprio Platão obviamente não acreditava nem desejava que os filósofos acreditassem. Aquilo que a alegoria da caverna, a meio d`A República representa para elite ou para os filósofos, é o mesmo que o mito do inferno, no final do livro, representa para a multidão dos que não são capazes de aceder à verdade filosófica. Nas Leis, Platão debate-se com esta mesma dificuldade, mas na forma inversa: aqui, sugere como substituto para a persuasão, uma introdução às Leis na qual a intenção e o fim destas sejam explicados aos cidadãos. Hannah Arendt, Entre o Passado e o Futuro.
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