quinta-feira, 30 de junho de 2011

FLAUTA DE PÃ II

FLAUTA DE PÃ_PICASSO *
Somos a aventura e o amor,
a alegria e a dor...
o tempo que se mima a ele próprio,
como néctar que transborda em copo;
*
Somos a fragrância mágica
e o voo leve que nos encanta
como flauta de pã sedutora mas trágica
depois das vertigens que à vista levanta; 
*
Somos o destino do mundo
em lances onde o caos alastra profundo,
até aos gritos de dor em que a vida se apranta,
como serpente cravada na garganta;
*
Somos o riso que nos espanta,
e o fardo pesado que já se levanta,
e a altivez leve que em espiral circula,
secreta como a luz que a fecunda...
*
Somos vagas, navios, e portos,
núvens, faróis, e nunca prontos,
leveza de voos em rasgo de pássaros,
e até rios de pranto em vida de lázaros;
*
Somos o azar que nos envolve,
e a liberdade de emergir que nos acolhe,
mas também o grito que nos invade,
e a nostalgia que nos aflora à saudade...
*
Somos as máscaras do destino,
 véus do acaso em eterno desatino,
A vida jogada em azar cifrado,
o desejo do mais no efémero plasmado...
E, por fim, o nada de bronze, no voo sagrado!...


Véu de Maya

1 comentário:

Manuel Veiga disse...

"humanos, demasiado humanos" - que somos!

belo e profundo. como é teu timbre...

abraços