sábado, 18 de junho de 2011

PARA ONDE VAIS...EUROPA?


VÉNUS E MARTE-PORMENOR-BOTTICELLI

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Os dois traços que caracterizam os europeus modernos parecem ser contraditórios: o individualismo e o igualitarismo. mas eu acabei por compreender.
Efectivamente, o indivíduo é duma vaidade infinitamente vulnerável: sabendo como essa vaidade é susceptível de sofrer, exige de todos os outros homens o reconhecimento da igualdade, para que possa estar sempre inter pares. É isso que caracteriza uma raça social em que, de facto, os dons e as energias não se mostram sensivelmente diferentes. O orgulho dos poucos que esperam viver em solidão e receber estima não é compreendido por ninguém. Os únicos grandes sucessos são sucessos de massas. Não é sequer entendido que qualquer sucesso de massas só pode ser um pequeno sucesso-pois que pulchrum est paucorum hominum.
Todas as morais ignoram a hierarquia entre os homens. Os juristas ignoram a consciência colectiva. O princípio individualista elimina os grandes homens e exige aos homens aproximadamente iguais que saibam, graças a um mais penetrante olhar, a uma mais viva lucidez, destacar os talentos. Nas civilizações mais recentes e refinadas, qualquer homem que tenha algum talento pode esperar receber parte das honras que lhe são devidas e que sejam exaltados como nunca, os mínimos méritos.
Isto tudo dá ao nosso tempo um verniz de extrema equidade.Um furor sem limites é desenvolvido, não contra a injustiça, contra os tiranos, ou contra os demagogos-o mesmo acontece em relação às artes-mas contra os homens superiores, os quais desprezam os louvores da multidão. A reivindicação de direitos iguais, [por exemplo, o direito de poder julgar seja o que for] é anti-aristocrática...
O tempo ignora igualmente o apagamento voluntário do individuo, a vontade dele em sumir-se no interior dum tipo colectivo, de não representar uma pessoa. Era nisso que outrora consistia o valor e o esforço de tantos grandes espíritos[entre eles os grandes poetas]; a vontade de não ser mais do que a cidade, na Grécia; o jesuitismo, o espírito e corpo dos oficiais e funcionários prussianos; a necessidade de ser o discípulo ou o continuador dos grandes mestres-tudo coisas de que necessita quem vie fora da sociedade e que permanece isento de vaidades mesquinhas"

Nietzsche, Vontade de Poder, vol I, Res Editora.

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