quinta-feira, 28 de junho de 2012

AH. POETAS DA VIDA!


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Ai Vida!, onde faltas tu aos poetas
Que te cantam intensa nos seus versos
Mas te fecham inteira numa redoma de ascetas?
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Ah, Poeta!-sorris-me tu feiticeira-
Afaga-te antes na minha longa cabeleira
E não te embriagues de mim com livros de cabeceira!
*
É que no meu espelho há encantos e desafios
E na minha fonte enigmas e prantos...
E que estranhos poetas esses? 
Que se repletam de mim com solitários suspiros!
*
Aí, Ó Musa minha! Estendes-me a tua passagem vermelha
E arejas-me com os teus leques de feiticeira
Até me enrolares intensa e inteira na tua longa cabeleira...
*
É que repousado nos meus livros de cabeceira
Tu? Que és felina e matreira! Ganharias logo a dianteira...
Véu de Maya

terça-feira, 26 de junho de 2012

NINFA SURPREENDIDA

Ninfa Surpreendida-Édouard Manet


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No teu corpo acendo estrelas
Mas é quando entranhas a alma nelas
Que a minha paixão roda livre
E tu ficas a arder no fogo delas...


Véu de Maya

domingo, 24 de junho de 2012

NO ESPELHO DA VIDA




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Ah, vida!, Como me olharias tu?
Se me desviasse em ti de ser eu próprio
E te desfigurasse por caminhos erráticos
Num turbilhão freneticamente ilusório!
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Ah, vida!, E como me espelharias tu?
Se-por amor a mim próprio-te rompesse na fonte
 Sem chegar a alcançar o profundo das tuas vagas
Enrolando-me apenas na miragem
 Ingénua das ilusões mais fracas!
*
Ah, vida!, E como me festejarias tu?
Se te tornasse secura em mim ou no meu contrário 
A vaguear por atalhos neste recanto do mundo
Sem te superar num destino mais profundo!
*
Aí? Ó ninfa altiva! Que encontro apaixonado
Cheio de amor fremente neste espelho cifrado!
 *
Mas tu que és o nome próprio de todos os prantos
E a ponte efémera por onde se chega ao deleite dos céus...
Sorris-me serena e atiras-me outra vez sublime
  Com novos enigmas por desvendar no espelho dos véus!...



Véu de Maya

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Ó MUSA MINHA!..PAUSA DE FESTAS DE SÃO JOÃO.



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Aí vida!, Porque te acenam com quimeras
Que já arderam em peregrinas febres
Mas nunca acenderam genuínas primaveras?
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Ai vida!, E porque te suspendem
na leveza do seu voo ou na pureza do luar
Se-na tua raiz-és pomar e desafios e azar?
*
Ai vida!, E porque se orgulham de ti
Mas-ao florear-te assim-te enviesam por atalhos
Sem te amar no profundo dos teus laços
Onde o Azar é anel cifrado que a tudo flori?
*
Aí? Ó musa altiva!-Olhas-me sedutora
E jogas-me no teu espelho uma troça de vergonha
Na tua pose felina de imperscrutável feiticeira!
*
Mas agora contigo! Sou só laços puros
A espelhar-me nos teus olhares seguros
Que são de risos e dores 
Como espinhos em flores!
*
E fico assim-dentro de ti-
Como na embriaguês da paixão!
*
Até chegar a ser no teu mar
 O rio de tudo o que sou...
E tu em mim as forças imensas que o vento levou...
A paixão real efémera do meu sonho
A incendiar-se a cada lance no eterno do teu fogo!...

Véu de Maya

terça-feira, 5 de junho de 2012

INSTANTE DOIRADO



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É a manhã e a alvorada
Que arrancam o ser à inércia
Até nascer nele uma nova morada;
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A noite e as portas do labirinto
Que rasgam clareiras ao caos
Até brilhar nele o infinito;
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O meio-dia e o zénite solar
Que derramam energia sobre as taças
Dos amantes da vida e do criar;
*
A meia-noite e os pressentimentos
Que festejam a vida aos sons da guitarra
Até tudo se afinar em explosão de sentimentos;
*
A chaga infeliz e os desmazelos
Em que a vida a e a cultura se afundam
Até o homem quebrar os medos;
*
A festa e a nascente primordial
Onde tudo se canta na música da vida
Como num barco ondulante em alto mar;
*
O instante e a luz do pensamento
Onde o ser celebra sem arrependimento
O nascer e o morrer do próprio tempo;
*
É expansão e Universo, verso e reverso
O ser escrito no perfume de um só verso
O símbolo da vida abundante
Mesmo a perdida e a errante;
Os amantes do ser e do pensar
Orgulhosos de ser um para o outro
Toda a alegria da incerteza
No jogo do seu próprio caminhar!...

Véu de Maya

sábado, 2 de junho de 2012

EM TRAJES DE CETIM


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Sou a alegria sem fim
E a tristeza sem fundo
Mas visto as dores do Mundo
Com trajes de cetim;
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Trago-as dolorosas no peito
Como ecos de um grito imenso
Que o pintam em telas a preceito
As parcas sibilinas do Silêncio;
*
Giram em Universo profundo
À ilusão de um mar que é rio em mim
De sonhar que as dores do Mundo
Cheirem às flores do meu jardim;
*
E afago-me só neste toque profundo
De cheiro a pétalas em tons diversos
Voos de pássaro aflito que é dor em versos
Ao esvoaçar tenso pelas elegias do Mundo!...

Véu de Maya