segunda-feira, 23 de maio de 2011

AS GRAÇAS NATURAIS


AS GRAÇAS NATURAIS_RENÉ MAGRITTE

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" Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti".Ora isto passa por sensatez, por prudência, pelo fundamento da moral, por uma "regra de ouro"! Pelo menos John Stuart Mill e os restantes ingleses acreditam nisso. Contudo, este preceito não resiste ao mais pequeno ataque. Estabelendo que não devemos fazer o que não queremos que nos façam, certas acções ficariam impedidas, com receio das suas consequências; isto, partindo do pressuposto de que todas as acções provocam retribuições...
Que aconteceia se, deitando a mão ao Príncipe se dissesse: "são precisamente tais acções que é preciso praticar, pelo receio de que outros o façam antes e nos impeçam a nós de fazê-lo"...
Pense-se ainda num corso, a quem a honra exige uma vendetta: não é que ele pense apanhar com uma bala na barriga, mas a perspectiva, a probabilidade de apanhar com uma bala não o impedirá de satisfazer a honra...
Em quais acções, dignas de tal nome, seremos nós voluntariamente indiferentes ao resultado que advirá delas? Se evitarmos certas acções porque nos acarretam resultados inconvenientes, então estamos a impedir-nos de qualquer acção digna desse nome.
Em contrapartida, um preceito desses é precioso por revelar um tipo de homens; ele formula o instinto do rebanho, em que todos são iguais, tudo se passa entre iguais: "O que eu te faço, fá-lo ás tu a mim"
Trata-se, positivamente, da crença numa equivalência de acções que nunca acontece e que nunca se verifica em circunstâncias reais. Nem as acções podem esperar reciprocidade! Entre individuos de verdade, não há acções iguais, e retribuições muito menos...
Ao agir, eu sou inteiramente alheio à ideia de que agir do mesmo modo seja possível para qualquer homem: a minha acção diz-me só respeito a mim. Se alguém quiser usar para comigo de retribuição, pode fazê-lo de qualquer outra maneira."  F. Nietzsche

3 comentários:

Vivian disse...

Bom dia,amigo!!

Quanta profundidade neste texto!
Se refletíssemos mais, a vida seria tão diferente...
Claro,não adianta só refletir, quem o faz precisa possuir valores e ética, assim todas as reflexões resultantes serão de grande importância para a humanidade!
Não faças aos outros o que não queres que façam a ti...parece tão simples...mas a maioria parece não entender...ou prefere ignorar completamente...
Beijos pra ti!!

Mar Arável disse...

Se não existissem margens

os rios corriam

livres

Manuel Veiga disse...

"Entre individuos de verdade, não há acções iguais, e retribuições muito menos..."

excelente. bem oportuno texto - numa época de "nivelar" por baixo...

abraços