MULHER COM FLOR_PICASSO *****
A arte é um contramovimento insigne contra o niilismo.
O elemento artístico cria e configura. Se ele constitui a actividade metafísica pura e simplesmente, então todo o fazer, sobretudo o fazer supremo, ou seja, mesmo o pensar inerente à filosofia, precisa de ser determinado a partir dele. O conceito de filosofia não pode mais ser determinado, segundo a figura do doutrinador moral, segundo aquele que estabelece que contra este mundo que não vale nada há um outro mais elevado.É preciso muito mais que seja estabelecido contra esse filósofo moral niilista[cujo exemplo mais recente a pairar diante de Nietzsche é Schpenhauer] o filósofo do contramovimento, o "filósofo-artista". Esse filósofo é artista na medida em que configura o ente na totalidade, isto é, na medida em que estabelece formas inicialmente lá onde o ente na totalidade se manifesta, no homem.É preciso ler o nº 795 da Vontade de Poder] no sentido dessa ideia.
" O filósofo artista. Conceito mais elevado de arte. Será que o homem pode colocar-se tão distante de outros homens, a ponto de configurá-los?[exercícios prévios: 1. O que configura a si mesmo, o eremita, 2.o artista até aqui, como o pequeno realizador, trabalhando sempre sobre uma matéria dada]".
A arte, sobretudo em sentido mais restrito, é o dizer sim ao sensível, à aparência, ao que não é "o mundo verdadeiro", ou como Nietzsche diz, de maneira breve, ao que não é a "verdade".
Na arte decide-se o que é a verdade; e isso sempre significa para Nietzsche o seguinte: o que é verdadeiro, ou o que é o ente propriamente dito. isso corresponde àquela concepção necessária entre a pergunta directriz da filosofia e a pergunta fundamental da filosofia, por um lado, e a pergunta sobre o que é a verdade, por outro. A arte é a vontade de aparência como vontade de sensível.No entanto Nietzsche diz dessa vontade[XIV, 369]
"A vontade de aparência, de ilusão, de engano, de devir e de mudança, é mais profunda, mais metafísica do que a vontade de verdade, de realidade, de ser".
O que se tem em vista aqui é o verdadeiro no sentido de Platão, o que é em si, as ideias, o supra-sensível.Para Nietzsche, em contrapartida, a vontade do mundo sensível e de sua riqueza é a vontade do que a metafísica busca.Portanto a vontade do sensível é metafísica.
Essa vontade metafísica é realmente efectiva na arte
Nietzsche diz[XIV, 368]:
"Percebi realmente muito cedo a seriedade da relação entre arte e verdade, e ainda agora experimento um horror sagrado diante dessa disensão.O meu primeiro livro foi dedicado a ela; A Origem da Tragédia acredita na arte sob o pano de fundo de uma outra crença: a de que não é possível viver com a verdade; a de que a própria vontade de verdade é um sintoma de degradação...
A sentença soa monstruosa! Todavia, ainda que não perca o seu peso, ela perde a sua estranheza logo que é lida de forma correcta. Vontade de verdade significa aqui e sempre em Nietzsche, vontade do mundo verdadeiro, no sentido de Platão e do cristianismo, a vontade do supra-sensível, do que é em si. A vontade de um tal " ser verdadeiro" é, com efeito, um dizer não ao nosso mundo aqui, ao mundo justamente no qual a arte está na sua terra natal. Já que este mundo é o propriamente real e o único verdadeiro.. Nietzsche pode esclarecer quanto à relação entre arte e verdade :
que a arte tem" mais valor do que a verdade"[n 853-IV]; isso significa: o sensível encontra-se em uma posição mais elevada e é mais próprio do que o supra-sensível..Por isso Nietzsche diz: Nós temos a arte para não irmos ao fundo, para não perecermos com a verdade"[nº822] Verdade visa uma vez mais ao mundo verdadeiro em sua ligação com o supra-sensível; ela abriga em sim um risco de perecimento da vida, o que sempre significa no sentido de Nietzsche: de perecimento da vida ascendente. O supr-sensível arranca a vida á sensibilidade poderosa, subtrai dela as suas forças e a enfraquece"...Nietzsche, Martin Heidegger, vol 1-Forense Universitária.