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Ah, poeta!- Quantos olhares e espelhos avistas tu?
Que nuns entreabres pomares altivos de colheita plena,
Mas noutros rasgas desertos sombrios e destilas-me nua
Como a angústia da insónia que se enrola à noite inteira!
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Ah vida!- E em que alambiques te poderia decantar?
Se é nos teus eternos opostos que te sinto a florir e murchar,
Por vagas de dor e euforias, sob um mar de alquimias incertas,
Tal como por entre as estrelas erram constelações secretas!
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Ah, poeta!, Mas se sou véus em desafios e sonhos,
Que é como nos teus versos, inocente, me arriscas!
Por que é que te jogas ainda no desenho dos meus rostos
Sem te cansares de olhar do deserto até aos pomares que avistas;
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Ah, vida!, Mas se é nesses contra-partos eternos
Onde te exploro pura como silêncio de estrelas em poesia...
Que tu és arco e flecha de cumes e vazios tão secretos:
Qual é o poeta que não ousaria acolher-te no teu fogo
Como ao mar alto os navios na sua intrepidez vadia!...
Véu de Maya