quinta-feira, 31 de março de 2011

ALTO INSTANTE


ALUCINAÇÃO PARCIAL_SALVADOR DALÍ

*
É a inocência e o acaso
genéticos no devir do Universo
e selados num cósmico abraço;
*
O abismo e o trágico do Universo
reflectidos no espelho da realidade
como máscaras da sua caprichosa liberdade;
*
A vertigem e a errância da pluralidade
onde todo o equlíbrio é curto e instável
e toda a mediação se revela polaridade;
*
O sonho e a fonte da emoção
onde o prazer do equilíbrio rejubila
na metáfora de uma breve ilusão;
*
O subtil do ser e a sua pluralidade
na roda seminal do Universo,
Onde tudo encobre o verso e o reverso;
*
A luta do nobre e da vilania
no ponto em que se chocam os opostos
como a liberdade e a tirania;
*
O sim pleno e a afirmação criadora
onde a árvore gera os frutos
e o artista cria a obra;
*
É inocência e acaso, jogo e cósmico devir,
 onde tudo o que chega volta a partir;
Rotação na flecha da instabilidade,
o caos cifrado à racionalidade
e os simulacros ao espelho da verdade;
Celebração exaltante e comovente
da liberdade contra a tirania,
e árvore que gera os frutos no solo
    profundo e fértil da filosofia!...

Véu de Maya

segunda-feira, 28 de março de 2011

LOUCO INSTANTE

LIVROS_SANDRO BOTTICELLI

*
É a visão e o olhar
que se fundem com o Mundo
até no seu espelho poder brilhar;
*
O voo e a lonjura
que sublimam na natureza o caos
e na sociedade mobilizam a cultura;
*
A proeza e a emoção da arte
que capturam as borboletas à vida
até as pôr a voar em obra de arte;
*
A coragem e a rebeldia
que se unem à sinceridade
para não dar tréguas à hipocrisia;
*
O mistério e o que nos ultrapassa
no pequeno e grande dos nossos actos
e nos deixa de olhos abertos estupefactos;
*
O rio e o caudal da corrente
que banham tudo o que é espesso e breve
a partir do lugar da nascente;
*
O trágico e o resto da vida que fica
como se fosse uma velha comédia
entre o bucha e o estica;
*
É olhar e visão, espanto e rebeldia,
coragem contra a hipocrisia,
lealdade na vida e na arte;
União viva do todo com a parte,
caminho e superação,
altivez e estrada incerta;
E no efémero que corre à hora certa,
transita inquieta, mas ampla, a filosofia,
 ilha de luz livre, e à vida entreaberta!...

Véu de Maya

quinta-feira, 24 de março de 2011

O INSTANTE ABSOLUTO

*
É a manhã e a alvorada
que arrancam o ser à inércia
até nascer nele uma nova morada;
*
a noite e as portas do labirinto
que rasgam clareiras ao caos
até brilhar nele o infinito;
*
o meio-dia e o zenite solar
que derramam energia sobre as taças
dos amantes da vida e do criar;
*
a meia-noite e os pressentimentos
que festejam a vida aos sons da guitarra
até tudo se afinar em explosão de sentimentos;
*
a chaga infeliz e os desmazelos
em que a vida e a cultura se afundam
até o homem quebrar os medos:
*
a festa e a nascente primordial
onde tudo se canta na música da vida
como num barco ondulante em alto mar;
*
o instante e a luz do pensamento
onde o ser celebra sem arrependimento
o nascer e o morrer do próprio tempo;
*
É expansão e Universo, verso e reverso,
o ser escrito no perfume de um só verso;
A metáfora da vida abundante
mesmo a perdida e a errante;
Os amantes do ser e do pensar
orgulhosos de ser um para o outro
toda a alegria da incerteza
no jogo do seu próprio caminhar!...

Véu de Maya

quinta-feira, 17 de março de 2011

ALTO LUAR...


LEDA E O CISNE_LEONARDO DA VINCI
*****
Do luar que brilha em teus olhos
Já avisto o teu pomar...
Mas é na embriaguês dos meus sonhos,
  Que te mimo, com espelhos de enfeitiçar!...

Véu de Maya

quarta-feira, 16 de março de 2011

BARUCH ESPINOZA...DÁ QUE PENSAR?

CLEÓPATRA E O CAMPONÊS_DELACROIX
*****
Deus dissera:

" Deixa de viver a rezar e a bater no peito! O que quero que faças é que salgues o mundo e desfrutes da tua vida.
Quero que gozes, que cantes, que te divirtas e que desfrutes de tudo o que criei para ti.
Deixa de frequentar esses templos lúgubres, obscuros e frios, que tu mesmo construiste e que dizes que são a minha casa.
A minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos ríos, nos lagos, nas praias. Aí é onde eu vivo e expresso o meu amor por ti.
Deixa de me culpar pela tua vida miserável; nunca te acusei de haver mal em ti ou que eras um pecador, ou que a tua sexualidade fosse algo de mal.
O sexo é um regalo que te ofereci e com o qual podes expressar o teu amor,o teu êxtase, a tua alegría. Assim não me culpes a mim por tudo em que te fizeram acreditar.
Deixa de estar a ler supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não não és capaz de ler-me num amanhecer, numa paisagem, no olhar dos teus amigos , nos olhos do teu filho, então, não me encontrarás em nenhum livro!
Confia em mim e deixa de pedir-me. Vais-me dizer a mim, como fazer o meu trabalho?
Deixa de ter tanto medo.Eu não te julgo, nem te critico, nem me aborreço, nem me molesto, nem castigo. Eu sou puro amor.
Deixa de pedir-me perdão, não há nada que perdoar. Se te fiz... te cumulei de paixões, de limitacões, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências... do livre arbítrio. Como poderia culpar-te de algo que gravei em ti, se espelhas algo que eu deixei em ti? Cómo posso castigar-te por seres como és, se sou eu quem te fiz? Crês que poderia criar un lugar para queimar todos os meus filhos que se portam mal, para o resto da eternidade. Qué espécie de deus louco pode fazer isso?
Olvída-te de qualquer tipo de mandamentos, de qualquer tipo de leis; elas são artimanhas para manipular-te, para controlar-te, que só injectam culpa em ti. Respeita os teus semelhantes e não faças o que o que não quererias para ti. A única coisa que te peço é que ponhas atenção à tua vida, que o teu estado de alerta seja o teu guia.
Amado meu, esta vida não é uma prova, nem uma escadaria, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio ao paraíso. Esta vida é a unica que há, aquí e agora, e a única de que necessitas.
Fiz-te absolutamente livre, não há prémios nem castigos, não há pecados nem virtudes, nada traz mácula, nada traz un registo.
És absolutamente livre de crer na tua vida, no céu ou no inferno.
Não te posso dizer, si há algo depois da vida, mas posso dar-te um conselho. Vive como se não houvesse. Como se esta fosse a tua única oportunidade de desfrutar, de amar, de existir.
Assim, se não houver nada, terás desfrutado da oportunidade que te dei.
E se houver, toma por certo que não te vou perguntar se te portaste bem ou mal. Vou-te perguntar: gostaste?... divertiste-te?... O que foi que mais desfrutaste? Que aprendeste?...
Deixa de crer em mim; crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que creias em mim, quero que me sintas em ti. Quiero que me sintas em ti quando beijas a tua amada, quando proteges a tua filha, quando acaricias o teu cão, quando te banhas no mar.
Deixa de louvar-me. Que tipo de Deus ególatra acreditas que sou?
Aborrece-me que me adulem, cansa-me que me agradeçam. Sentes-te agradecido? Demonstra-o cuidando de ti, da tua saúde, das tus relacões com o mundo. Sentes-te observado, sobrepensado?..Expressa a tua alegría! Essa é a forma de me louvar.
Deixa de complicar as coisas e de repetir como perigo o que te ensinaram acerca de mim. O único dado seguro é que estás aquí, que estás vivo, que este mundo está cheio de maravilhas. Para que necessitas de mais milagres? Para quê tantas explicacões? Não me procures além, não me encontrarás. Busca-me dentro... aí estou, pulsando em ti.

Baruch Spinoza


domingo, 13 de março de 2011

NÉVOAS DE SOLITÁRIO


DUAS MENINAS AO PIANO_RENOIR
*
Escuto a rebeldia do silêncio
Em sopro de energia cifrada
Que já não é refúgio de nada,
Mas chama pura e sagrada;
*
Vejo a textura do Mundo,
opaca, em voragem acelerada,
Que já não é angústia de nada,
Mas máscara desperdiçada;
*
Tacteio a errância do Universo
Num trotear tão incerto...
Que nem sei se é caos em verso,
Ou trágico puro entreaberto!
*
Mas nesta lupa, pura e obscura,
Rasgo sobre o abismo do Mundo
O véu de um olhar profundo,
Em que a vertigem retorna e perdura:
*
Na roda da multidão, que é tão pobre,
E no silêncio virginal, que é tão profundo...
Até entoar no coração do Mundo
Este fado, cujo destino é ser nobre!...


Véu de Maya

domingo, 6 de março de 2011

RENDAS FINAS

ABELHA NO PÓLEN DA FLOR
*****
Entre o prazer dos beijos,
bordados em volúpia de lábios,
E a renda fina dos folhos,
perdida na ternura dos prados!
Fica a lua-cheia em desejos...
E a felicidade boémia nos olhos,
Que é como a abelha nos favos...

Véu de Maya

quinta-feira, 3 de março de 2011

ESPELHOS POR BEIJOS

CAMPO DE FLORES NA TOSCÂNIA

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Em teus olhos brincam sonhos,
E nos meus vibram desejos,
Mas é aos acordes da alma...
Que eles se embriagam risonhos!
E trocam espelhos por beijos...

Véu de Maya