quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

A liberdade do eu é derivativa?

Esta liberdade que tomamos como garantida em toda a teoria política e que mesmo aqueles que elogiam a tirania devem levar em conta, é a exacta antítese da «liberdade interior» esse espaço íntimo onde os homens se refugiam para escapar à coerção exterior e se sentirem livres. Uma tal sensação interior não se manifesta exteriormente e, por isso, é irrelevante do ponto de vista político. Por muito legítima que seja, e por mais eloquentemente que haja sido descrita na Baixa Antiguidade, a liberdade é historicamente um fenómeno tardio e foi inicialmente o resultado de um afastamento em relação a um mundo no qual as experiências mundanas foram convertidas em experiências internas do próprio eu. As experiências de liberdade interior são derivadas, no sentido em que pressupõem sempre uma fuga ao mundo, onde a liberdade era negada, para uma interioridade a que ninguém tinha acesso... Hannah Arendt, Entre o Passado e o Futuro.

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