domingo, 24 de agosto de 2008

CATARSE GUERREIRA

SOLDADO BEBE_MARC CHAGALL
Big Bang da vida
explosão de contrários
jogo divino em fogo criado
e luta eterna, sem descanso e sem fim
imortal e sem medida!
***a não ser no fulgor do meio-dia
e na explosão festiva da alegria da vida
onde canta a música
e sonha festa e a poesia
***e onde cintilam a arte e a filosofia
que trazem de volta o sal à vida,
como jogos de musas
e mistérios na claridade dos dias!
***Eras festa imensa
e fogos puros de artifícios,
eras nascente de aventura livres,
e berço de viagens sem precipícios !
***Mas vestiste de tragédia,
cega, feia, horrível e real,
as múltiplas vidas que perderam
a fonte dos sonhos vitais
em jogos absurdos
desesperados, fatais!
***

De tragédia bonita e real,
com viagens flutuantes de vida,
e correntes de Sol e fantasia!
caíste, abrupta e absurda, na morte real,
e no caos profundo, vergonhoso e letal,
abriste assim mais um sepulcro
para a poesia!
***E na voragem cega da guerra,
que crianças e jovens,
que mulheres e homens,
que a todos levaste fora do tempo,
como falas agora da sua inocência?
que fechaste em manto tão triste!
***Poderás ainda errância dionisíaca do mundo,
lugar dos sonhos, das dores e das elegias
trazer de volta o fulgor da vida
ao berço das inspirações
e libertá-la com raios profundos
da destruição e das escravas submissões?
***Ai! se tudo isto nada mais fosse
que um sonho!
ainda que o sonho de uma elegia!
Ah! como tudo isto imaginaria
trazer de volta à terra humana
acima do luto e do pesadelo e da dor
a vida, a festa e a poesia!...
Luís Lourenço, em "Verdade e Política" de Hannah Arendt, Lisboa Editora

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

INTERLÚDIO REFLEXIVO

ALEGORIA DA PAZ_RUBENS
Tu que rompes todas as grelhas da palavra
sem moral ou sentimento
Tu que desestabilizas todos os espaços possíveis
e invades as fronteiras de tempos inverosímeis
Tu que destronas monarcas senhores e impérios
e fazes perder a fé nos vitupérios!
Desce à tribuna e frontalmente
arrogante intempestivo e frio
Edifica em cada certeza um mistério
Lança em cada palavra um desafio
e diz a cada homem que o silêncio
jamais será vazio!...

Luís Lourenço