domingo, 14 de setembro de 2008

PSICOLOGIA DA NATUREZA HUMANA?

O JOGADOR SECRETO_RENÉ MAGRITTE

Nós só sentimos agrado para com os semelhantes-ou seja, pelas imagens de nós próprios-quando sentimos comprazimento connosco. E quanto mais estamos contentes connosco, mais detestamos o que nos é estranho: a aversão pelo que nos é estranho está na proporção da estima que temos por nós. É em consequência dessa aversão que nós destruímos tudo o que é estranho, ao qual assim mostramos o nosso distanciamento.

Mas o menosprezo por nós próprios pode levar-nos a uma compaixão geral para com a humanidade e pode ser utilizado, intencionalmente, para uma aproximação com os demais.

Temos necessidade do próximo para nos esquecermos de nós mesmos: o que leva à sociabilidade com muita gente.

Somos dados a supor que também os outros têm desgosto com o que são; quando isto se verifica, então recebemos uma grande alegria: afinal estamos na mesma situação.

E tal como nos vemos forçados a suportar-nos, apesar do desgosto que temos com aquilo que somos, assim nos habituamos a suportar os nossos semelhantes.

Assim, nós deixamos de desprezar os outros; a aversão para com eles diminui, e dá-se a reaproximação.

Eis porque, em virtude da doutrina do pecado e da condenação universal, o homem se aproxima de si mesmo. E até aqueles que detêm efecivamente o poder são de considerar, agora como dantes, sob este mesmo aspecto: é que "no fundo, são uns pobres homens"

Nietzsche, Vontade de Poder II

9 comentários:

  1. Amoroso, amoroso é o post que acabei de fazer.

    Muitos cumprimentos.

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  2. Nunca tinha visto a situação desta perspectiva:

    "E quanto mais estamos contentes connosco, mais detestamos o que nos é estranho: a aversão pelo que nos é estranho está na proporção da estima que temos por nós."

    Mas será? Será que o facto de gostarmos de nós, de ter uma auto-estima saudável não é a melhor forma de podermos ajudar o Outro? De aceitar o Outro?
    O que eu vejo é que as pessoas que sentem um menosprezo por elas próprias, com uma baixa auto-estima são, em regra geral, pessoas intolerantes com as falhas dos outros. Por conseguinte, são pessoas que têm prazer de proferir criticas pejorativas aos demais e que se deleitam com as desgraças alheias.

    Mas é muito bom ler opiniões diferentes e este post deixou-se a pensar...

    Um beijo com muitas saudades.

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  3. Clara...o teu contraponto é muito inteligente e sensível...realmente estimar-se a si não siggnifica amar-se a si...deixando de fora o outro...mas talvez o utilitarismo sábio do egoísmo possa significar um crescendo no aprofundamento da vida e no combate a tantas fraquezas que atormentam o homem e cuja fatalidade não poderemos negar...Deste ponto de vista a gregarização excessiva do homem pode trazer um certo amolecimento...indesjável? a ideia do post é provocar a reflexão e o debate...viste isso muito bem...

    xi-coração de saudade e admiração

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  4. questão sensível, a do auto

    e

    hetero espelhamento.

    e o balanço entre concentração

    e

    dispersão, movimento

    de coreografia (jogo?

    nem sempre claro,

    nem sempre distintivo.



    beijo :)




    ~

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  5. Dir-me-ás se estiver correcto ou errado: este texto é anterior à ideia de super-homem, do banimento da culpa, do roteiro do desígnio?

    Um abraço

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  6. Obrigado JPD!
    Ese texto contém todo o fermento do homem que não quer apenas conservar-se mas aspira a superar-se...

    abraço

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  7. são "ínvios" os caminhos do Amor.

    porque é disso que aqui se fala. ainda. em vestes pagãs. claro.

    abraços

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  8. so somos felizes quando podemos dizer que nao o somos

    Jokas

    Paula

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  9. Paula!

    Isso é bem preferível à fatalidade de nem ter essa liberdade de aspirar a algo mais.

    :)

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